Uma Páscoa feliz...

O testemunho de Mercedes Salisachs

Nesta entrevista, Mercedes explicou o porquê da sua vinda a Garabandal, neste mês de Abril de 1962. Primeiro começou por explicar quem era o seu filho, o que ele representava para ela e consequentemente da sua terrível dor que caiu sobre ela a 30 de Outubro de 1958, dia do falecimento do seu filho. Tinha apenas 21 anos de idade e morreu devido a um acidente de automóvel nas auto-estradas de França.


O chefe de polícia Juan Alvarez Seco fala-nos da chegada de um visitante a Garabandal:

" Eu não me lembro da data, mas lembro-me sobre o que aconteceu nesse dia. Eu estava presente na aldeia de Garabandal nessa noite e fui ao café de Ceferino, que veio ter ao meu encontro ao mesmo tempo que dizia para uma senhora o seguinte: -Este é o chefe de polícia, que esteve presente em muitas aparições - Depois de dizer isto, o Ceferino levou-a para junto de mim. Esta senhora[1] era de Barcelona e precisava que alguém lhe explicasse alguma coisa sobre estes acontecimentos que ocorreram em Garabandal. Depois virei-me para a senhora e cumprimentei-a. Ela rapidamente perguntou-me se eu acreditava nas aparições. Eu respondi-lhe que sim e de seguida ela registou tudo aquilo que lhe tinha dito, no seu gravador áudio. "

Mais tarde Mercedes voltou a questionar outras pessoas da aldeia, entre eles um sacerdote que estava presente naquele local. De novo voltou de novo a gravar as respostas dessas conversações no gravador. Este sacerdote viria a afirmar-lhe de forma confidencial que ele também acreditava em Garabandal. Mercedes relata o seguinte:

" A morte do meu filho destruiu a razão de eu viver; ao perder o meu filho, senti-me possuída por uma terrível escuridão. Todos diziam-me que eu conseguiria passar tudo isto com o tempo. Diziam-me que pouco a pouco ficaria acostumada pela sua ausência, pela ausência de não o ouvir e de não o ver, e aceitaria a minha situação de forma natural. Mas o tempo passava e eu continuava em desespero. Apesar disso, eu tentava esconder a minha melancolia, especialmente para não ferir a sensibilidade das minhas outras quatro crianças. As pessoas usavam argumentos religiosos para ajudar-me. Falaram comigo sobre resignação cristã. Eles falaram-me da fé que o meu filho tinha, do seu exemplo de vida e também que deveria agradecer a Deus pelo facto dele ter sido "levado" em condições tão conducentes de bem-estar da sua alma. Mas a resignação não apareceu, e por isso todos estes argumentos eram inaplicáveis e inconsistentes. Chegou depois o tempo na qual as dúvidas começaram a apoderar-se de mim, afectando a minha fé de forma mais intensa. Transformei-me numa outra pessoa sem qualquer futuro, apenas vivia com o passado, sem qualquer esperança, simplesmente queria morrer, ficava com o sentimento que com a morte tudo acabava.

No entanto, as minhas dúvidas nem sempre eram fortes. Por vezes, sem saber como, a esperança voltava. E se o meu filho pudesse ver-me.....Se a comunhão dos Santos[2] fosse algo real....Nessa altura eu não conseguia rezar, porque estava sempre rodeada de muitas dúvidas. Numa ocasião, lembro-me que a minha mãe sugeriu que rezássemos juntos o rosário e eu recusei, considerando que não tinha importância para mim. Eu precisava de um sinal. Precisava de algo que pudesse confirmar que depois da morte, a vida continua. Mas o sinal não apareceu, nem sequer o procurei.

Por exemplo, a minha devoção a Nossa Senhora era praticamente nula. Até que um dia, na festa do Coração Imaculado de Maria, fui ter perante uma imagem de Nossa Senhora das dores e pedi-lhe que me desse um sinal forte, que me indicasse que o meu filho estava salvo. A partir desse dia, deixei de ter obsessões e dúvidas, apenas queria voltar para Deus.

Cinco meses depois, a 4 de Maio de 1958, após confissão, regressei a Deus finalmente, com intenções de nunca voltar a separar-me Dele até ao fim da minha vida. Depois deste momento, tudo começou a mudar. Apesar da minha solidão pelo meu filho ter continuado, sentia dentro de mim uma grande tranquilidade. A minha devoção por Nossa Senhora crescia de dia para dia. Depois mais tarde, quando ouvi falar sobre os acontecimentos de Garabandal, pensei em visitar esta aldeia isolada não apenas por curiosidade, mas também com a intenção de honrar Nossa Senhora, mesmo que o assunto ainda estivesse aberto a discussão. Ao tirar partido da ausência da minha família, que tinha ido de viagem à Suíça, deixei Barcelona na Quinta-Feira Santa de 1962. Fui acompanhada pelo José, o motorista do veículo e da sua mulher Mercedes.

Chegamos ao Cosío era meio-dia de sexta-feira Santa, e conheci o pároco de Garabandal, Valentin Marichalar. Enquanto esperávamos a chegada do veículo que nos ia levar até Garabandal, aproveitei a ocasião para falar mais um pouco com ele. Apesar da sua compreensível reserva, ele admitiu-me que estava convencido que o fenómeno era sobrenatural e que as meninas eram as pessoas certas para receber Nossa Senhora, devido à sua inocência.

Eram já duas da tarde quando chegou finalmente o carro que nos ia levar até Garabandal. O seu condutor, Fidel, informou-nos que o Padre Corta (Padre Jesuíta que veio a Garabandal para ajudar o pároco da aldeia nas celebrações da Santa Páscoa) daria a comunhão lá em Garabandal e que toda a aldeia já se encontrava concentrada na Igreja. "

Depois de ter chegado à aldeia, Mercedes teve oportunidade de conhecer mais de perto as meninas videntes, assim como as suas famílias, talvez por intermédio do chefe de polícia que referenciamos atrás.

"Nessa noite" - continuou Mercedes - " dei a Jacinta alguns objectos para que desse a beijar a Nossa Senhora. Para além disso também lhe pedi, tanto a ela como às restantes três raparigas, que quando vissem Nossa Senhora, perguntassem pelo meu filho. Penso que Jacinta me terá dito, "e o que aconteceu ao teu filho?" Eu respondi, que ele tinha morrido. Toda a multidão estava concentrada na casa de Mari-Loli, aguardando pelas aparições. Eu dei-lhe um papel, escrito dos dois lados e enquanto dava o papel disse-lhe que não esperava uma resposta. A única coisa que me interessava era saber onde estava o meu filho. Eu não lhes disse o seu nome.

Naquela altura, ainda não sabia como e de que forma as visões aconteciam. Apesar de me terem explicado antes, continuava a ser difícil para mim conseguir visualizar esses acontecimentos. Agora, depois de já ter estado mais vezes em Garabandal e de ter presenciado alguns êxtases, continuo a pensar que não é possível nem existe forma de descrever as quedas das videntes, as suas expressões faciais, as suas emoções, etc. Tudo aquilo que ocorria tinha um verdadeiro significado, apesar de algumas pessoas pensarem que tudo aquilo que se passava, não devia ser encarado de forma séria.

Enquanto estávamos à espera em casa de Mari-Loli, passado algum tempo, observamos Mari-Loli em êxtase a descer as escadas que vinham do primeiro andar da sua habitação. Ela descia as escadas juntamente com outra rapariga, olhando com os olhos bem para cima e com uma bela expressão no seu rosto. Mari Loli deslocou-se a uma mesa que continha alguns objectos que seriam posteriormente entregues a Nossa Senhora para que fossem beijados. Vi perfeitamente como ela pegou no meu papel, levantou-o, virou-o do avesso, e voltou a colocá-lo de novo na mesa. Mais tarde, saiu da casa para a rua segurando uma cruz. "

Com objectivo de percebermos melhor tudo isto, não podemo-nos esquecer que tudo isto aconteceu numa Sexta-Feira Santa, que é celebrada por toda a Espanha de forma muito profunda. O êxtase de Loli teve lugar ao anoitecer, após uma tarde santificada com a realização de vários serviços litúrgicos, entre as quais a realização de uma Via-Sacra da qual muita gente da aldeia pôde assistir. A saída de Loli para a rua coincidiu com a hora em que todas as cidades espanholas realizavam a procissão de Sexta-Feira Santa. Nesse ano em Garabandal, a marcha da procissão não teve música, mas foi vivida de outra forma como nunca tinha sido até aquele momento.

Mercedes continua:

" Os passos da rapariga eram leves, rítmicos e regulares. Parecia que estava a caminhar numa calçada lisa e plana; para ela, não existiam os obstáculos que faziam parte daquele caminho pedregoso e irregular. Da forma que podia, agarrei-me ao braço da rapariga que segurava Mari-Loli; mas depois de parar junto à porta da Igreja, a rapariga vidente decidiu começar a fazer o trajecto de subida à montanha, mas não consegui segui-las. Tinha a sensação que o meu coração ia parar a qualquer momento. A subida até aos " pinos" era tão íngreme! Como estava exausta, decidi descansar a meio do percurso e esperar por eles assim que descessem novamente.

Comecei a pensar muitas coisas. A noite não estava a ser agradável para mim. Sempre que a rapariga dava o crucifixo a beijar, ela evitava sempre os meus lábios tocassem no crucifixo. A suspeita de pensar que Nossa Senhora recusava que eu beijasse a cruz, magoava-me muito no meu interior. Quando finalmente decidiram descer, vi Mari-Loli a correr, virada para trás e sempre a olhar com o rosto esticado para cima, mas mesmo assim, evitava todos os obstáculos e obstruções do caminho, como se ela tivesse olhos na parte de trás da sua cabeça. Ao chegarmos à aldeia, ela encontrou Conchita. Ambas partilharam sorrisos nesse encontro, e mais tarde deram o crucifixo para que fosse dado a beijar às pessoas presentes, caminhando sempre juntas, segurando os braços uma da outra. Jacinta, acordou do êxtase junto à porta da Igreja, mas Loli continuou em êxtase até sua casa.

Depois disso, fui procurar Jacinta e questionei-a sobre o meu filho. Ela disse-me que Nossa Senhora não tinha ainda respondido a essa pergunta. Um pouco consternada com tudo isto, fui para o lugar onde Loli estava, que me disse precisamente o mesmo. Depois questionei o seguinte:

-Pelo menos, ela chegou a ler o meu papel?

- Sim, ela leu - disse ela.

O padre Corta estava lá nesse momento, e ao constatar o meu desânimo, perguntou à rapariga se Nossa Senhora iria voltar. Ela respondeu: - Sim, às 02:00 ou 02:30 - Depois o padre recomendou-me que voltasse outra vez mais tarde para falar sobre o caso do meu filho.

Na hora que tinha sido predita, Mari-Loli entrou novamente em êxtase. Ela saiu para fora de sua casa e imediatamente juntou-se a Jacinta, que estava também a caminhar em êxtase ao longo do caminho. Ambas apresentavam o crucifixo para que fosse beijado por todos aqueles que se encontravam ali presentes naquele momento, mas mais uma vez elas passavam por mim, e evitavam os meus lábios para que pudesse finalmente beijar a cruz. E o pior foi quando me disseram enquanto caminhavam que Nossa Senhora tinha-lhes dado a resposta em relação ao meu assunto: - Nossa Senhora deu-me a resposta, mas eu não posso dizer-te agora - disse Mari-Loli.

Esta resposta deixou-me ainda mais em baixo. Eu não merecia isto, começava a suspeitar, que o meu filho encontrava-se num local....que seria melhor não ficar a saber. Mesmo assim, ainda tive a coragem de questionar Mari-Loli se a resposta de Nossa Senhora era boa ou má. Ela foi novamente evasiva: - Eu não posso...eu não posso - e a expressão da sua cara era realmente impenetrável. Novamente, o padre Corta tentou novamente ajudar-me. (Ele observou o meu olhar de desolação, e inevitavelmente teve pena de mim.) Ele perguntou à rapariga: -podes dizer-lhe amanhã? -Loli encolheu os seus ombros e limitou-se unicamente a responder: -talvez."

No seu primeiro dia em Garabandal, este tornou-se realmente num dia de teste e de provação para Mercedes Salisachs, com muito sofrimento, humilhação, confusão e agonia.

" Quando acordei nas primeiras horas da manhã de Domingo, sentia-me muito mal com tudo aquilo que me tinha acontecido. Antes de ter ido dormir, estive a rever em pormenor todos os fenómenos que tinha testemunhado no dia anterior. Queria com tudo isto tentar encontrar algum erro ou falha que mostrasse falsidade destes acontecimentos, ou seja, que Garabandal não passava de mera superstição. Mas quanto mais analisava todos os pormenores, mais certezas tinha dentro de mim que tudo era verdadeiro, que tudo era autêntico. Eu teria que ser a única pessoa que estava em erro e por essa razão o crucifixo nunca me foi dado a beijar."Não sabemos se Mercedes conseguiu dormir nessa noite; mas sabemos com toda a certeza que o próximo dia, Sábado Santo, não lhe trouxe na mesma nenhuma consolação. Estava-se no dia 21 de Abril, Sábado Santo. Liturgicamente, é um dia de alguma paz, de espera e meditação. " O Sábado Santo não foi melhor. Apesar da cordialidade do marquês e da sua mulher, do Padre Corta, Padre Valentim, do chefe da polícia e das mães das raparigas, o ambiente na aldeia parecia hostil. Não tinha dúvida que toda esta cortesia era devido à pena e ao isolamento que Nossa Senhora tinha-me sentenciado. Finalmente comecei a ter a premunição que o que estava a acontecer tinha alguma relação com o significado dos dias que estávamos a celebrar. Será que tudo isto tinha um significado litúrgico? Eu não me atrevia em pensar nisto porque parecia ser demasiado forçoso da minha parte. Mas o que era certo é que depois de sentir esta premunição, a ansiedade que possuía até aquele momento deixei de a ter. Resolvia assim, submeter-me à vontade de Deus. Nessa noite, jantei cedo e sozinha no café do Ceferino. Depois, o chefe da polícia levou-me a casa de Conchita. A sua mãe recebeu-me em sua casa educadamente e ofereceu-me um lugar perto da sua filha, Conchita. O calor da lareira acesa era sufocador e o meu estado físico cada vez mais se agravava a cada hora que passava. Conversamos sobre muitas coisas. As coisas que mais impressionava nas meninas era a naturalidade que possuíam nas suas vidas diárias. Elas aceitavam a supernaturalidade com uma simplicidade fora de comum. Para elas, ver Nossa Senhora era um facto que estava ao alcance de todos e por isso tudo isto que acontecia era normal para elas. O que mais lhes custava era observar a incredibilidade da maioria das pessoas. As pessoas estavam sempre a fazer a mesma pergunta: Tu acreditas? Estão a ver verdadeiramente Nossa Senhora? Quando Conchita entrou em êxtase, eu saí da cozinha devido ao extremo calor, mas por outro lado também pude observar este fenómeno com mais atenção. Pelo facto de ter ido para fora da casa de Conchita, pude ver mais de perto o que aconteceu com um senhor que era recém-chegado a Garabandal, chamava-se Mándoli. Apesar de se considerar um homem de fé, ele não acreditava nas aparições. Logo a seguir vi Conchita dirigir-se a mim e a esse senhor. O Sr. Mándoli encontrava-se ao meu lado. Conchita dirigiu-se a esse senhor para lhe dar a beijar o crucifixo, mas o homem talvez por estar um pouco embaraçado com a situação, conseguiu evadir-se de dar a beijar o crucifixo. Conchita continuou em êxtase com a cabeça esticada para trás, impossibilitando que ela própria pudesse ver o que estava e quem estava à sua frente. Voltou a persuadir de forma persistente que o homem beijasse a cruz. O Sr. Mándoli admitiu com emoção que tinha pedido a Nossa Senhora que se isto fosse verdade, que Conchita lhe desse a beijar o crucifixo. Mais tarde, Conchita juntou-se às outras três raparigas videntes que caminhavam em êxtase ao longo dos caminhos da aldeia. Todas as quatro meninas estavam agarradas aos braços umas às outras com uma ligeireza impressionante. Atrás, seguia uma multidão de pessoas com lanternas para iluminar o caminho escuro. Lembro-me de ler que em outras aparições (Lourdes, Fátima), as videntes permaneceram muito estáticas. Parecia que esta nova postura de se moverem muito, tinha a ver com as características dos novos tempos em que vivíamos todos nós. O que as raparigas videntes nos mostravam, estava bem adaptado à nossa maneira de viver. Quando aconteciam estas aparições, todas as pessoas podiam seguir bem de perto e participar. No início, de acordo com o que diziam as raparigas videntes, Nossa Senhora mostrava claros sinais de querer a aproximação a todos os espectadores ali presentes, permitiu que os próprios formulassem perguntas, respondessem às orações, dessem artigos para beijar...Contudo, encontrava-me naquele momento muito desconcertada com tudo aquilo que se passava comigo. Por isso decidi que não ia voltar a fazer mais perguntas sobre o assunto, nem sequer esperar o menor sinal por parte das raparigas videntes. Uma mulher da aldeia, seguindo um costume antigo, começou a cantar o rosário nas ruas. Apesar de sentir-me bastante exausta, senti-me impelida a segui-las. A devoção que qualquer pessoa sentia na atmosfera naquele momento, era comovedora. Nunca na minha vida pude sentir uma Páscoa tão fervorosa como esta! A noite parecia estar a tornar-se mais clara à medida que o rosário avançava. Estávamos no terceiro mistério quando o inesperado aconteceu. Alguém da multidão toca-me ligeiramente no meu ombro. Ao virar-me para trás, vi a marquesa de Santa Maria que se agarrava ao braço de Mari-Loli. Ela falou-me de forma confidencial o seguinte: - Mari-Loli diz que tem algo para te dizer. Nesse momento, fiquei confusa. Não me passava pela cabeça de que se tratava, pois já tinha tido bastantes desilusões, por isso não esperava nada.Pelos vistos dizia respeito a algo que Nossa Senhora lhe tinha dito ontem, mas com a condição de transmitir esta mensagem apenas após a Vigília Pascal. Mari-Loli dizia: - Mais tarde, mais tarde dir-lhe-ei......

Fiquei intrigada, não sabia o que havia de dizer, mas a Rosário, a pessoa que esteve sempre comigo nos momentos mais difíceis, interveio e disse: - Não logo, vais dizer agora a essa mulher. Não vais deixar que esta mulher fique preocupada ainda mais tempo.

Depois Mari-Loli e eu ficamos à parte do restante grupo. Inclinei-me para ela que me disse em forma de sussurro no meu ouvido, mas com voz nítida o seguinte:

- Nossa Senhora disse que o seu filho estava no céu.

Que experiência magnífica tive eu naquele momento. Não consigo descrever o que aconteceu. Tudo, absolutamente tudo ficou resolvido da melhor maneira. Só me lembro que abracei Mari-Loli como se estivesse a abraçar o meu filho. Mais tarde encontrei-me eu própria nos braços da Rosário; ela também chorava comigo e disse-me coisas que eu não conseguia entender. As pessoas ficavam à minha volta e nessa multidão lembro-me de ter visto o Padre Valentín, Padre Corta, Eduardo Santa Maria, o chefe da guarda civil..... Todos olhavam para mim, admirados e contentes. A mãe de Conchita também veio ter comigo e no sentido de querer ajudar-me disse: -Digam a essa senhora que se ela está a chorar pelo facto de não ter recebido o crucifixo para beijar, que não fique perturbada, pois durante toda a noite eu também não recebi o crucifixo. - Essa cena ficará para sempre imprimida no meu coração e penso que nunca mais ela será apagada.O resto do rosário, foi rezado como ascendente para o céu. Fiquei junto da Rosário e de Mari-Loli. Nunca na minha vida tinha sentido estar tão segura e com uma leveza indescritível. Ainda continuando a chorar, continuamos a rezar o rosário, caminhando sempre até ao início da manhã. Penso que rezei mais com os meus olhos que com os meus lábios, uma vez que Mari-Loli estava sempre a repetir: -Não chores, não chores. Mas para mim isso era impossível, pois tinha tantas razões para chorar!

Nunca precisei de uma lanterna, nem nunca olhava para o chão, uma vez que estava ligada e agarrada ao braço de Mari-Loli. Nunca tinha visto um céu tão estrelado como naquela noite.
Por volta das três da madrugada, fomos todos para o café de Ceferino, pai de Mari-Loli, para falarmos sobre tudo aquilo que tínhamos presenciado nessa noite memorável. Pude também observar que a Rosário estava a sussurrar com a Mari-Loli... Um pouco mais tarde, ela veio ter comigo: -Mari Loli disse-me que a mensagem que ela te deu não está completa, mas uma vez que vós começastes a chorar ela não pôde continuar a dizer o resto da mensagem.

Depois, a rapariga vidente confidenciou-me sobre aquilo que ainda não tinha dito sobre a mensagem, o que me deixou ainda mais perplexa

. -Ela disse-me que o teu filho estava feliz., muito feliz e que estaria contigo todos os dias....Disse-me que sabia que o teu filho estava no céu! Nossa Senhora disse-lhe, mas que tinha que guardar segredo durante algum tempo porque Nossa Senhora disse-lhe: " Não digas à mulher, até à Missa da Páscoa de amanhã."

Durante a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo, um tempo de sofrimento para Jesus e Sua Mãe Maria, a co-redentora, Mercedes também passou por longas horas de humilhação e total escuridão.... E só após a proclamação das primeiras aleluias da Missa da Páscoa, da mais sagrada noite Santa, é que ela recebeu o presente, a magnífica e inesperada mensagem do céu.

" Depois desses momentos"- continua Mercedes - " tudo se alterou para mim. Mais tarde, a rapariga entra novamente em êxtase. Para demonstrar que o jogo do silêncio que presenciei nos dias anteriores tinha terminado, ela imediatamente veio ter comigo a aproximou-me o crucifixo para que o pudesse beijar e fê-lo uma, duas, três vezes.....Depois fez-me o sinal da cruz sobre a minha testa, os meus lábios, no meu peito, e de seguida deu novamente a Nossa Senhora para beijar. E para confirmar tudo aquilo que falei, deu-me novamente o crucifixo para que o pudesse beijar. Depois, sem oferecer o crucifixo a mais ninguém, ela foi para a rua.

Fora da casa, Ceferino, o pai da rapariga, aproximou-se de mim e disse-me: -Ela estava a falar sobre ti com Nossa Senhora, isto foi o que eu ouvi:

" Eu disse-lhe para que não chorasse, para que ela ficasse feliz....mas ela não prestou-me atenção....E se ela chorar outra vez, quando poderei contar-lhe sobre isso?"

Assim que o êxtase acabou, Mari-Loli veio ter comigo e disse-me que tinha outra mensagem para me transmitir:

- Enquanto estava a falar novamente com Nossa Senhora, vi que Ela estava muito risonha e que Ela estava a olhar para cima. Quando lhe perguntei porque estava tão sorridente, Ela disse-me que " no momento em que ela estava a falar comigo, ele estava a olhar para ti. E que a sua alegria foi grande."

Mari-Loli, a quem tu estás a referir-te?

Eu nunca tinha pronunciado o seu nome, e ela interrompeu-me:

- Sim. Miguel. Nossa Senhora disse-me: " Acima de tudo, diz à senhora que enquanto eu estou a falar contigo, Miguel está a olhar para ela, e que ele está muito contente; ele é feliz, muito feliz."

Diz-me Mari-Loli! Como soubestes que o nome do meu filho era Miguel?

Porque eu perguntei a Nossa Senhora, " Quem é o Miguel?" e ela respondeu-me, " é o filho dessa senhora

Quanto tudo acabou na manhã seguinte, o meu regresso a casa foi como caminhar sobre nuvens. Saí de Garabandal e o céu estava a brilhar do outro lado da montanha."

[1] A Senhora mencionada aqui era Mercedes Salisachs de Juncadella, conhecida em Espanha como escritora. (Alguns anos antes da sua visita a Garabandal, ela ganhou um prémio " Cidade de Barcelona" de um romance literário.

[2] A comunhão dos Santos é um dos dogmas mais bonitos do Catolicismo. Os Católicos acreditam que existe uma comunicação inefável entre aqueles que partiram e aqueles que ainda estão vivos; e um misterioso intercâmbio entre eles, em Cristo e por Cristo, na Igreja e pela Igreja.

[3] Aldeia vizinha a poucos quilómetros de Garabandal