Meditação do Evangelho – Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

01-01-2023

Viver Garabandal: Ela é Mãe de Deus e Nossa Mãe!



Neste dia primeiro de janeiro, celebramos com a Santa Igreja, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. A contemplação do mistério do nascimento do Salvador tem levado o povo cristão não só a dirigir-se à Virgem Santa como a Mãe de Jesus, como também a reconhecê-la como Mãe de Deus. Essa verdade foi aprofundada e compreendida como pertencente ao patrimônio da Fé da Igreja, já desde os primeiros séculos da era cristã, até ser solenemente proclamada pelo Concílio de Éfeso no ano 431.

Infelizmente, como nos recorda Rui Costa, em seu magnífico livro "Garabandal: um chamado urgente à conversão", "a devoção mariana na Igreja foi fortemente abanada e até mesmo arrancada de muitos corações"; dentro disso, as Aparições de Garabandal se apresentam como uma grande "arma"; afinal, ao aparecer por mais de 2000 vezes, a Santíssima Virgem Maria se apresentou como "Nossa Mãe" e conviveu com as videntes de um modo muito íntimo e familiar. Jacinta, uma das videntes, nos diz: "quando recitávamos a Ave Maria, nós dizíamos: 'Santa Maria, Mãe de Deus e Nossa Mãe...'"; isso, para expressar a familiaridade que existia entre elas: a Mãe a as filhas. Isso significa que, as Aparições de Garabandal vêm nos recordar que, assim como na vida de Jesus, a Santíssima Virgem Maria tem um papel fundamental na vida da Igreja e de todos os cristãos, porque Ela é Nossa Mãe.

Na primeira comunidade cristã, enquanto cresce entre os discípulos a consciência de que Jesus é o Filho de Deus, resulta bem mais claro que Maria é a Theotókos, a Mãe de Deus. Trata-se de um título que não aparece explicitamente nos textos evangélicos, embora eles recordem "a Mãe de Jesus" e afirmem que Ele é Deus (Jo 20,28; cf. 5,18; 10,30.33). Em todo o caso, Maria é apresentada como Mãe do Emanuel, que significa Deus conosco (cf. Mt 1,22-23).

A expressão Theotókos, que literalmente significa "aquela que gerou Deus"; à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é Lhe consubstancial. Nessa geração eterna, Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi, então, concebido e dado à luz por Maria.

Como São Luis Maria, podemos afirmar que "Maria Santíssima é o paraíso terrestre do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que Ele escondeu, como em seu seio, seu Filho único, e nele, tudo o que há de mais excelente e precioso. Oh, que grandes coisas e escondidas Deus todo-poderoso realizou nesta criatura admirável, ela mesma o diz, como obrigada, apesar de sua humildade profunda: 'o Poderoso fez em mim grandes coisas!' (cf. Lc.1,49)". (Tratado da Verdadeira Devoção, 6).

Proclamando Maria "Mãe de Deus", a Igreja quer, portanto, afirmar que ela é a "Mãe do Verbo encarnado, que é Deus". Por isso, a sua maternidade não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana.

A maternidade é relação entre pessoa e pessoa: uma mãe não é mãe apenas do corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera. Maria, portanto, tendo gerado segundo a natureza humana a pessoa de Jesus, que é a pessoa divina, é Mãe de Deus.

Ao proclamar Maria "Mãe de Deus", a Igreja professa com uma única expressão a sua fé acerca do Filho e da Mãe. Essa união emerge já no Concílio de Éfeso, como já mencionei. Com a definição da maternidade divina de Maria, os padres queriam evidenciar a sua fé à divindade de Cristo. Não obstante as objeções, antigas e recentes, acerca da oportunidade de atribuir esse título a Maria, os cristãos de todos os tempos, interpretando corretamente o significado dessa maternidade, tornaram-no uma expressão privilegiada da sua fé na divindade de Cristo e do seu amor para com a Virgem.

Na Theotókos, a Igreja, por um lado, reconhece a garantia da realidade da Encarnação, porque - como afirma Santo Agostinho - "se a Mãe fosse fictícia, seria fictícia também a carne... fictícia seriam as cicatrizes da ressurreição" (Tract. In Ev. loannis, 8,6-7). Por outro lado, ela contempla com admiração e celebra com veneração a imensa grandeza conferida a Maria por Aquele que quis ser seu Filho, afinal, "Deus Pai só deu ao mundo o seu Unigênito por Maria. Suspiraram os patriarcas, e pedidos insistentes fizeram os profetas e os santos da lei antiga, durante quatro milênios, mas só Maria o mereceu, e alcançou graça diante de Deus" (Tratado da Verdadeira Devoção, 16).

A expressão "Mãe de Deus" remete ao Verbo de Deus que, na Encarnação, assumiu a humildade da condição humana, para elevar o homem à filiação divina. Mas esse título, à luz da dignidade sublime conferida à Virgem de Nazaré, proclama também a nobreza da mulher e sua altíssima vocação. Com efeito, Deus trata Maria como pessoa livre e responsável, e não realiza a Encarnação de seu Filho senão depois de ter obtido o seu consentimento.

Já no século III, como se deduz de um antigo testemunho escrito, os cristãos do Egito dirigiam-se a Maria com esta oração: "Sob a vossa proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus! Não desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita" (Da Liturgia das Horas). Neste antigo testemunho, a expressão Theotókos, "Mãe de Deus", aparece pela primeira vez de forma explícita. Seguindo o exemplo dos antigos cristãos do Egito, os fiéis entregam-se àquela que, sendo Mãe de Deus, pôde obter do divino Filho as graças da libertação dos perigos e da salvação eterna e que é, também, "Nossa Mãe".

Há, em Garabandal, um fato que me chama muito a atenção; trata-se da última aparição de Nossa Mãe à Conchita, uma das videntes. Foi no dia 13 de Novembro de 1965, um dia de mistura de alegria e de tristeza. Conchita subiu sozinha aos "pinos" debaixo de chuva. Maria Santíssima apareceu de novo para ela. Ela vinha com o Menino Jesus, muito sorridente, mas desta vez seria a última vez que iria aparecer. Nossa Senhora dirigiu-se a Conchita e disse:

"Fala-me, Conchita, fala-me dos meus filhos, quero levá-los a todos debaixo do meu manto (...) Quero-vos muito e desejo a vossa salvação. (...) Esta será a última vez que me verás aqui, mas sempre estarei contigo e com todos os meus filhos"; penso que não poderíamos encontrar palavras mais maternas do que essas. A Santíssima Virgem é, de fato, nossa mãe!

É verdade que, alguns fiéis, por ignorância teológica ou por falta de fé, podem ver nessa solenidade um certo exagero, pensando que estaríamos dando à Virgem Maria uma honra que não lhe pertence; que erro absurdo! Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, disse uma vez: "Não tenhas receio de amar demais a Santíssima Virgem Maria, pois jamais conseguirás amá-la o suficiente e Jesus ficará muito feliz, porque a Virgem Santíssima é sua Mãe"; sobre isso, São Maximiliano Maria Kolbe, dizia: "Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada: jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade".

A grandeza da Virgem Maria aparece com maior evidência no trecho da Carta aos Gálatas escolhido para a segunda leitura da Liturgia de hoje (cf. Gal 4, 4-7), no qual São Paulo sublinha que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu de uma mulher: "Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva" (Gal 4, 4-5).

Se humanizarmos um pouco a figura de Deus, como tantas vezes o faz a Escritura, podemos imaginá-Lo esperando 'o tempo previsto' para o nascimento da Mãe do Redentor. Mas na realidade, Ele - para quem tudo é presente - concebeu eternamente a obra da criação e, no centro desta, num só ato de sua vontade divina e num mesmo e idêntico decreto, predestinou a Jesus e Maria. Portanto, no plano da Encarnação do Verbo, estava também contido o dom singularíssimo da maternidade divina de Nossa Senhora.

Isto nos faz compreender porque, dentre os incontáveis privilégios de Maria - dos quais a abundante coletânea de títulos acumulados pela piedade católica para louvá-la nos dá uma pálida ideia -, o principal é o de ser Mãe de Deus. Comparados com este, todos os demais são ínfimos!.

O Bom Deus poderia ter escolhido um meio distinto para assumir nossa natureza e estar entre nós, mas Ele quis tomar Nossa Senhora como Mãe. Para uma pessoa humana é impossível uma prerrogativa superior a esta e por isso, como ensina São Tomás, Ela Se encontra na categoria das criaturas perfeitas, à qual pertencem apenas duas mais: a humanidade santíssima de Jesus e a visão beatífica.

Eis aqui a luz da grandeza da Mãe de Deus emanada a partir das leituras do Evangelho e da Carta de São Paulo aos Gálatas, para esta Solenidade que abre o Ano Novo: Nossa Senhora é Mãe de Deus. Tal verdade deve nos consolar, animar, alegrar! Sim, ao entrarmos no Ano Novo, em meio a tantas incógnitas, voltemo-nos para esta Mãe, Mãe poderosa que, sendo Mãe de Deus é também Mãe nossa; afinal, se somos membros do Corpo de Cristo, pelo Batismo; e se, aos pés da cruz, Nosso Senhor nos deu a Virgem Maria por Mãe, Ela é para nós a certeza da vitória em qualquer circunstância da vida. Que Ela te cubra com seu manto materno por todos os dias de tua vida e como prometeu em Garabandal, esteja sempre contigo.

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana


Pe. Viana, é sacerdote de uma paróquia do estado de S. Paulo, Brasil e que é colaborador do Apostolado de Garabandal.