Meditação do Evangelho – 4º Domingo do Tempo Comum e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

29-01-2023

Viver Garabandal: Garabandal e as Bem-Aventuranças!

Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

Estamos no quarto domingo do Tempo Comum e, com ele, meditamos o "Sermão do Monte, onde Nosso Senhor nos falará sobre a verdadeira alegria, sobre a verdadeira felicidade.

Vivemos hoje uma realidade bastante contraditória. Por um lado, vemos a volumosa produção de riquezas, as descobertas nas diversas áreas: tecnologia, medicina, astronomia, física...; por outro, vemos um mundo mergulhado em misérias humanas de todos os tipos. Em meio a tudo isso, percebemos um dado interessante: nunca se falou tanto de felicidade e jamais se foi tão triste.

É como se o homem tivesse perdido o fio da meada, estivesse sem rumo, sem sentido para viver, sem ter "a que" ou "a quem" consagrar a sua vida, pois tudo é muito fútil e vão. Falta algo ao homem moderno que lhe dê o sentido de plenitude, de felicidade. Ele se vê em um emaranhado de propostas, mas nenhuma lhe dá o sentido de sua vida.

Na prática, falta ao homem de hoje, tão desbravador, a coragem de voltar-se às questões mais fundamentais da sua existência e desbravar-se a si mesmo à luz de Deus, autor da vida e realizador da plenitude humana.

São João fala que "Deus é amor" (I Jo 4,16). No original grego, ele queria dizer: "Deus é amor-doação". Aqui, a natureza de Deus começa a se revelar: Ele é aquele que se dá, que se derrama em amor, por isso cria o céu, a terra, toda a natureza e, por fim, numa explosão de doação, cria também o homem, dando a ele todas as coisas criadas para que as submeta e realize-se perfeitamente em sua natureza humana.

O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 30, nos recorda que "se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procura-Lo, para que viva e encontre a felicidade", afinal, como dizia Santa Teresa dos Andes, "Deus é alegria infinita!" e somente Nele o homem pode encontrar e ser feliz, já aqui nesta terra, sendo plenamente feliz na Vida Eterna, pois "somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar" (Catecismo da Igreja Católica, 27).

As Bem-Aventuranças nos colocam na lógica de Deus e nos fazem pensar a partir Dele. O saudoso papa Bento XVI dizia que "as Bem-aventuranças são um novo programa de vida, para libertar-se dos falsos valores do mundo e abrir-se aos verdadeiros bens, presentes e futuros. De fato, quando Deus consola, sacia a fome de justiça, enxuga as lágrimas dos aflitos, significa que, além de recompensar cada um de modo sensível, abre o Reino dos Céus", que é o mais importante e o fim último de nossa alegria, que nunca será plena nesta terra.

Aqui, neste mundo, teremos uma certa "alegria dolorida", ou seja, será sempre uma alegria marcada pela cruz, mas sempre com Deus, o que é o mais importante. Santa Zélia Martin, a mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, escreveu uma carta ao seu irmão, na qual dizia: "Meu caro amigo, estou tão persuadida disto que te acabo de dizer, que em certas épocas da minha vida em que eu me julgava realmente feliz não era sem tremer que eu pensava nisso, porque é certo e provado pela experiência que a felicidade não é deste mundo... Não, a felicidade não é deste mundo, e quando tudo prospera é mau sinal. Deus, na Sua infinita sabedoria, assim o quis, para nos recordar que a terra não é a pátria verdadeira" e que, portanto, devemos nos esforçar para buscarmos os bens eternos e entendermos que somente em Deus e no cumprimento contínuo de Sua vontade, seremos verdadeiramente felizes.

Na verdade, as Bem-aventuranças, que com a sua linguagem paradoxal são um ensinamento sobre a verdadeira felicidade que todos os homens procuram. São Josemaria Escrivá, as definia como "um poema de amor divino". De fato, como explica o Papa Francisco, "as Bem-Aventuranças são o retrato de Jesus, a sua forma de vida; e constituem o caminho da verdadeira felicidade, que também nós podemos percorrer com a graça que Jesus nos concede".

As bem-aventuranças são, pois, as oito janelas através das quais Jesus, logo no início do Seu ministério, mostra o Reino dos céus; são também as oito portas para nele entrar e as oito vias para nele caminhar. São o céu já na terra, o modo como o Reino dos céus se torna presente entre nós, o modo como se dá, o único modo para o receber, nele entrar e nele viver; o ver, construir e saborear já aqui na terra, e isso é lindo! E não há outro: para se entrar no Reino e dele fazer parte é necessário identificar-se com alguma destas categorias; para nele caminhar, só percorrendo algum destes caminhos.

As bem-aventuranças incluem toda a caminhada dos discípulos de Jesus, desde o princípio até à perfeição final, até porque o Senhor foi o primeiro a viver a percorrer as vias das Bem-Aventuranças. Cada um a princípio vive mais uma ou outra bem-aventurança, mas só se amadurece na vida cristã à medida que as vai percorrendo até que as viva todas, porque elas vão nos conformando a Nosso Senhor, e este é o fim último de nossa jornada.

É interessante que, antes de pronunciar as Bem-Aventuranças, Nosso Senhor sobe ao Monte. Na Sagrada Escritura "o monte" é o lugar do encontro com Deus e da revelação de Deus (Gn 22,2; Ex 3,1; 1 Rs 19,8; Sf 3,11; Is 52,7; Mt 14,23; 15,29; 17,1;28,16), e Jesus é o próprio Deus que se revela, que se deixa encontrar. Em Garabandal, a situação é a mesma: sabemos que a aldeia de São Sebastião de Garabandal é situada na montanha de Peña Sagra e é ali que a Santíssima Virgem Maria quis aparecer, porque ela também quer nos revelar Deus e nos indicar o caminho que devemos seguir para sermos, de fato, felizes. As mensagens de Garabandal são, sem dúvida, uma "Mensagem de Esperança" e, consequentemente, de alegria.

Uma das videntes, a Conchita, escreveu uma bela carta a alguns jovens franceses, em 1970; transcrevo: "Queridos jovens franceses: de vocês a Virgem deseja ajuda para converter o mundo e evitar a ira de Deus sobre nós, pecadores. Ela confia em vós para que com o vosso exemplo e abnegação sejais modelos para os outros jovens que não tiveram a graça que tivestes de ouvir as Mensagens da Virgem. Ela vos pede muito espírito de penitência, sacrifício e oração. Sem essas armas não podemos fazer nada. O tempo que temos não é muito, mas é o suficiente para evitar o grande castigo e agradar ao Sagrado Coração de Nossa Mãe. É no Santíssimo Sacramento onde encontrareis a força suficiente para empreender esta vida que Nossa Senhora vos pede constantemente: ide frequentemente ao Santíssimo Sacramento, esvaziai o vosso coração das coisas mundanas que não vos permitem ouvir a Deus. Se fizerem isso, começareis a viver uma vida feliz, porque só encontrará a felicidade que buscam, na entrega a Deus e à Virgem. Peçam uns pelos outros, por vocês mesmos, peçam à Virgem. Peçam com fé e confiança. Ela vai te dar tudo de bom para você.E agora por mim e meus amigos peço que rezem a Deus e à Virgem para que sejamos humildes e sacrificados e todos juntos pensemos mais na Paixão de Jesus, para nos esquecermos de nós mesmos.Em união de orações, e que um dia para sempre possamos nos encontrar no Céu para sermos eternamente felizes."

Em outra carta, em novembro de 1965, ela escreveu:  "A Virgem me disse em 1º de janeiro de 1965, que os cristãos católicos, que não pensam na vida eterna, céu ou inferno,que devem pensar nisso, e assim a vida estará mais unida a Cristo, e que devemos pensar e meditar mais na Paixão de Jesus. Devemos fazê-lo, mas não apenas fazê-lo, mas fazer com que os outros o façam. Veremos então como nos sentiremos mais às portas da felicidade de Deus; e nossas Cruzes, nós as aceitaremos com alegria e amor a Deus.

Assim como nas Bem-Aventuranças, do Evangelho, a Santíssima Virgem Maria nos propõe, em Garabandal, um caminho de Bem-Aventurança, de verdadeira felicidade, que começa nesta terra e que será pleno no céu. Este caminho, em minha visão (a partir das duas mensagens fundamentais - de 1961 e 1965), pode ser resumido em dez elementos:

Somos muito felizes pelos "sacrifícios e penitências";

Somos muito felizes porque Deus "vive em cada sacrário";

Somos muito felizes, se vivermos "a bondade" e se "buscarmos a santidade";

Somos muito felizes, "se ajudarmos aos sacerdotes" com "nossas orações e sacrifícios"

Somos muito felizes porque "podemos comungar", ter Jesus dentro de nós e viver com Ele, na ação de graças;

Somos felizes porque podemos "glorificar a Deus em nossa vida ordinária";

Somos felizes porque podemos nos "confessar regularmente";

Somos felizes porque a Santíssima Virgem Maria "é a Nossa Mãe";

Somos felizes porque podemos "nos emendar e nos converter";

Somos felizes porque o Senhor deu a vida por nós, "em sua Paixão".

E então, temos razões para já sermos felizes nesta terra? E, se o bom Deus nos faz felizes aqui, quanto mais nos fará felizes no céu!

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,


Pe. Viana