Meditação do Evangelho – 4º Domingo da Quaresma e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

19-03-2023

Viver Garabandal: Garabandal e a "cegueira da humanidade"

Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

Estamos celebrando o Quarto Domingo da Quaresma. As leituras deste Domingo propõem-nos o tema da "luz". Definem a experiência cristã como "viver na luz".

No Evangelho, Jesus apresenta-se como "a luz do mundo"; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do orgulho e da autossuficiência. Aderir à proposta de Jesus é andar por um caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena. Da ação de Jesus nasce, assim, o Homem Novo – isto é, o Homem elevado às suas máximas potencialidades por obra do Espírito de Jesus.

Na segunda leitura, São Paulo propõe aos cristãos de Éfeso que recusem viver à margem de Deus ("trevas") e que escolham a "luz". Em concreto, ele explica que viver na "luz" é praticar as obras de Deus (a bondade, a justiça e a verdade).

Jesus Cristo é a Luz que veio ao mundo para nos iluminar, dando sentido à nossa vida. A experiência mostra-nos que quando as pessoas rejeitam a Luz de Deus, da fé, não conseguem descobrir os verdadeiros valores e correm atrás de quimeras que as destroem: a droga, a impureza e o dinheiro arvorado e valor supremo. Além disso, não se reconhecem como irmãos da mesma família e, como consequência, reina a insegurança a todos os níveis: da vida (pelo aborto, terrorismo, assassínios, etc.) e dos bens.

Jesus unge os olhos do cego de nascença com lama feita a partir da saliva. Jesus como que inicia com um rito. Toca os olhos do cego, concedendo-lhe a visão. E, aos poucos no diálogo com ele, vai- lhe despertando a fé. E o cego acaba vendo, à luz da fé, que Jesus é o Filho do Homem. Acaba dando testemunho dele.

A cura do cego de nascença, que encontramos no Evangelho de hoje, (Jo. 9, 1-41), descreve o processo da fé de um homem, que vai passando das trevas da cegueira, para a luz da visão, e desta para a Luz da fé em Cristo. O "Cego" é um símbolo de todos os homens que renascem pela fé, acolhendo Jesus (no Batismo) e deixando-se conduzir pela sua palavra.

Tudo começa por uma pergunta dos discípulos a Jesus: "Por que esse homem nasceu cego?", "Quem pecou para que nascesse cego: ele ou seus pais ?" (Jo 9,2). Jesus responde: "Nem ele, nem seus pais pecaram…" (Jo 9,3). Com essa resposta Jesus lembra o que os profetas já combatiam que era uma crença popular antiga que pensavam que o cego estava pagando pelos seus pecados ou dos seus antepassados. Trata-se de uma crença errada, semelhante ao absurdo da reencarnação. Esta é uma crença espírita, não é cristã. A Palavra de Deus nos diz: "os homens morrem uma só vez, depois vem o juízo" (Hb 9,27). A reencarnação é uma injustiça! É negar a obra redentora de Cristo e afirmar que é o próprio homem que se salva, por etapa, cada vez mais que se reencarna. É a onda do reciclável, como lixo.

"Nem ele, nem seus pais pecaram…". Com isso Jesus quer nos ensinar que os segredos da vida pertencem a Deus! Se crermos no seu amor, se nos abandonarmos nas suas mãos, a maior dor, o mais inexplicável sofrimento pode ser confortado pela certeza de que Deus está conosco e nos fortalece, pela certeza de que das situações mais difíceis, o Bom Deus sabe tirar algo bom, tendo em vista a nossa salvação: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" Até na dor e no sofrimento Deus está presente e isso é o mais importante. Não somos felizes porque não sofremos, mas porque o Senhor jamais nos abandona.

O Papa Bento XVI dizia que "o domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n'Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz»" (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).

O mundo hedonista, consumista e superficial em que vivemos, não compreende isso! O cego é questionado pelas autoridades sobre a origem de Jesus. E ele mostra-se livre (diz o que pensa…); corajoso (não se intimida); sincero (não renuncia à verdade); suporta a violência (é expulso da Sinagoga). Antes de se encontrar com Jesus, o cego é um homem prisioneiro das "trevas", dependente e limitado. "Não sabe quem o curou…" Finalmente, encontrando-se com Jesus, que lhe pergunta: "Acreditas no Filho do Homem", manifesta a sua adesão total: "Creio, Senhor". Prostra-se e O adora. O caminho de fé do cego é um itinerário para todo cristão!

São Josemaria Escrivá, em Amigos de Deus, nº 193, diz: "Que exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa. É assim que te comportas com as indicações que Deus te faz, quando muitas vezes estás cego, quando a luz se oculta por entre as preocupações da tua alma? Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem umedecidos? Teria sido mais adequado um colírio misterioso, um medicamento precioso preparado no laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê, põe em prática o que Deus lhe ordena, e volta com os olhos cheios de claridade". Nesta Quaresma, somos convidados a viver a experiência catecumenal, renovando o nosso Batismo, mediante o Sacramento da Penitência (Confissão) e, pela graça de Deus, podemos recomeçar.

A Quaresma é um tempo que nos convida a fazermos uma boa Confissão dos nossos pecados, pois eles são a causa da nossa cegueira espiritual. O pecado nubla e ofusca a nossa mente, mancha a nossa afetividade, debilita a nossa vontade. E assim adoecemos de cegueira espiritual, como este cego de nascença (Evangelho), que estava jogado fora do templo, pedindo esmola. Jesus exige que nos aproximemos dEle com fé que gritemos com confiança e que obedeçamos quando nos manda descer para banhar na piscina de Siloé da Confissão.

Quanto mais buscamos Jesus como Luz, mais nossa vida terá sentido! O nosso comportamento de cristão deve ser testemunho do Batismo recebido; devemos testemunhar com as obras que Cristo é para nós, não apenas luz da mente, mas também luz da vida. Não são as obras das trevas – o pecado – as que correspondem a um batizado, mas sim as obras da luz.

Deus conceda que a nossa fé seja mais profunda. Nós, como aquele que fora cego, começamos a ver somente pela iniciativa e pelo poder de Jesus; também foi pela ação misteriosa da graça que nós continuamos a buscar a Cristo e a adorá-lo. Há uma antiga oração da Igreja que pede a Deus que as nossas ações sejam precedidas, ajudadas e terminadas com o auxílio divino mostrando, dessa maneira, a nossa dependência total do Senhor. Seria terrível se algum dia nos invadisse uma espécie de autossuficiência espiritual. Seria o momento no qual Jesus nos diria, como outrora aos fariseus, que a nossa pretensão é o que nos cega (cfr. Jo 9,41).

Não nos consideremos grande coisa só porque participamos de uma determinada pastoral ou de determinado grupo; nem pensemos que seremos salvos porque somos desse ou daquele movimento; tampouco nos apoiemos numas obras que sabemos que são boas, mas que frequentemente estarão manchadas pelo egoísmo e pelo orgulho.

A caminhada junto ao Senhor, as contínuas quedas no caminho rumo à santidade, a aparente repetição das lutas interiores que nós não sabemos explicar, deveriam levar-nos a uma profunda humildade, a confiar sempre mais na iniciativa de Jesus, a combater os nossos próprios defeitos em total dependência da ação divina e a adorar a Deus com todo o nosso ser.

Vemos, em Garabandal, uma grande manifestação da Misericórdia de Deus; afinal, se pelo pecado, os olhos da humanidade perdem a capacidade de ver a Deus, a Santíssima Virgem Maria vem ao encontro dela, porque está perdida e nas trevas, para iluminá-la com a Luz de Cristo. Em meio às trevas desse mundo corrompido, Nossa Mãe vem nos socorrer, nos iluminar, para que não nos percamos. Assim, Garabandal é, para o mundo e para a Igreja, uma mensagem de esperança.

Em uma carta às videntes de Garabandal, São Padre Pio escreveu: "[...] o mundo vai pelo caminho da perdição", e é por isso que, na época, o papa São Paulo VI, expressou o desejo de fazer com que as Mensagens de Nossa Senhora em Garabandal se tornassem públicas, com a maior urgência, conforme expressou o padre Javier Escalada. É interessante perceber que o papa dá ênfase às Mensagens, porque elas são, de fato, os elementos mais importantes e fundamentais. Nas Mensagens de Garabandal, vemos os elementos que, aos poucos, vão abrindo os nossos olhos. É verdade que, em Garabandal, encontramos as temáticas do Aviso, do Sinal e do Castigo, mas não adiante nada teme-los, se não vivermos as Mensagens.

É tão bonito perceber que, diante de uma humanidade cega, por causa do pecado, Nosso Senhor não nos abandona; ao contrário, Ele envia a Santíssima Virgem Maria com os remédios eficazes que, se "bem usados", vão abrindo os nossos olhos, para que possamos ver a Deus face a face. Arrisco dizer que, espiritualmente falando, Garabandal é como que um "tratamento" que tem a grande missão de abrir os nossos olhos da fé.

É nítido que, o que a Santíssima Virgem Maria quer, especialmente em Garabandal, é nos fazer voltar para o essencial da fé, à verdadeira Doutrina da Igreja Católica. Não podemos nos esquecer disso; afinal, muitos, movidos pelo sensacionalismo, vão atrás de novidades, gastam horas e dias fazendo elocubrações vãs, que podem despertar o medo e o desespero no coração de muitos. Deus não é um patrão pronto para castigar, mas é um pai amoroso que quer nos receber de volta, que quer nos perdoar e que quer que vivamos como Ele, para sempre, no céu.

Se olharmos ao redor, veremos a apostasia se alastrando e, com isso, a perversão da Doutrina. Como consequência do pecado, a humanidade está cega, e não consegue mais ver a Verdade, criando "verdades" para si. A busca por sensações e emoções, o relativismo e o subjetivismo, a descrença, o materialismo, o imediatismo, o avanço do protestantismo e das demais seitas, tem confundido ainda mais a humanidade e a conduzido para um caminho de total escuridão e perdição.

Mas, o que fazer diante disso?

Ouvir a voz de Nossa Mãe, para que sua mensagem "seja acolhida em nossos corações antes que seja tarde demais", como disse o papa São João Paulo II. Em suas Mensagens, como já disse, encontramos o tratamento da nossa cegueira que, na prática, é uma cegueira referente à nossa falta de fé. Aqui, Nossa Mãe não quer, apenas, que saibamos mais sobre a Fé Católica, mas que a vivamos, de fato. Não seremos salvos por sabermos conceitos, mas por sermos transformados pelas verdades da nossa Fé, ou seja, se nos convertermos.

Sabemos que, na prática, muitas pessoas que foram à Garabandal, experimentaram reações diversas. Entre os efeitos espirituais, existem muitas mudanças de vida e conversões fortíssimas. Mas, por qual razão? Claro! Em primeiro lugar, porque em Garabandal há uma graça sobrenatural que penetra nos corações abertos que a visitam; porém, em segundo lugar (e, para mim, é o elemento mais importante!), porque todos os que vivem, de fato, as Mensagens, de Garabandal, se convertem e mudam de vida.

Na prática, é impossível ser o mesmo, depois de "experimentar" Garabandal, que nos convida à penitência, ao sacrifício, à mudança de vida, à adoração eucarística, à obediência da fé, à comunhão frequente. Tudo isso, aos poucos, vai nos abrindo os olhos, para que possamos, de fato, ver a Deus face a face.

E então, você tem feito a sua parte?

Vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana