Meditação do Evangelho -3º Domingo do Tempo Comum – Ano “A” e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

22-01-2023

Viver Garabandal: Garabandal e a Conversão!


Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

O Evangelho deste final de semana, nos coloca diante de um tema fundamental para a nossa vida espiritual: a conversão! Ela é o "tema" da primeira pregação de Jesus e da primeira fala de seu ministério público.

A conversão é fundamental porque sem ela não há salvação! É verdade que a salvação é uma graça, mas não é de graça; afinal, ao nos criar, Deus não precisou de nossa ajuda; mas, para nos salvar, precisa da nossa cooperação, que é o nosso esforço diário pela conversão. Nunca podemos nos esquecer de que, em Garabandal, que é um chamado urgente à conversão, Nossa Mãe disse que "a taça estava enchendo" (em 1961) e que, depois, "estava transbordando" (em 1965), e isso, por nossos pecados; sendo assim, ela nos chama à conversão porque, "se não mudarmos, virá um grande castigo" (em 1961).

A conversão pode ser compreendida em dois níveis; me explico: se se trata da busca pela santidade, então é um caminho lento e gradual, que precisa ser trilhado todos os dias, com perseverança e o auxílio da graça de Deus. Somente almas eleitas já praticamente nascem nas mais altas moradas da perfeição cristã. Mas se por conversão se entende o abandono dos pecados mortais, neste caso, deve ser algo total e imediato. Sendo assim, a conversão deve ser imediata e gradual: imediata, no rompimento com o pecado; gradual, na busca pela santidade.

Com uma simplicidade materna, Nossa Mãe dá a nós, seus filhos, as indicações necessárias para o bem de nossas almas e para a nossa conversão. Em Garabandal, ela nos ensina que a conversão é urgente e que, se não tomarmos o caminho da cruz, se a Santíssima Eucaristia não for o centro de nossas vidas e de nossos dias, se não formos bons e se, de modo geral, não nos convertermos, o Senhor não terá outra escolha senão intervir para que compreendamos a importância da nossa salvação, que é o que está em jogo.

A dificuldade que muitas pessoas encontram para se converterem deve-se à falta de propósito, ou seja, a falta da verdadeira decisão de se converter, de mudar de vida. Santa Faustina, no Diário, faz a seguinte anotação: "Para quem realmente quer, nada é difícil." (Diário, 1413). Algumas fórmulas do ato de contrição fazem o desserviço de dizer que a pessoa "deve esforçar-se para não mais pecar", como se já estivesse determinada a provável queda posterior. Mas nenhum marido diz à sua esposa: "Vou esforçar-me para não te trair outra vez". De igual modo, como se pode dizer a Jesus: "Vou esforçar-me para não O crucificar outra vez"? Isso é blasfemo. Ou há o propósito de não mais pecar, nunca mais, ou não há conversão.

O arrependimento é um ato da vontade. Com a meditação das consequências do pecado, da paixão de Nosso Senhor, com muita oração etc., esse ato de vontade torna-se mais forte e decidido, de modo que a alma passa a detestar o mal, e ainda que volte a pecar, ela buscará o quanto antes a Confissão para retomar a vida outra vez. É por isso que, em Garabandal, Nossa Mãe insiste tanto na necessidade de fazermos muitos sacrifícios e muita penitência e, principalmente, que devemos ser bons, ou seja, devemos nos converter. A determinação para as coisas de Deus é como um músculo que necessita de exercícios para ficar forte. E essa força só virá por meio da oração, da ascese e da fuga das ocasiões que podem nos levar ao pecado.

Uma grande santa medieval, declarada doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI, nos presta uma importante contribuição na reflexão sobre o tema da "conversão". Santa Catarina de Sena, no seu famoso "Livro da Divina Doutrina" - popularmente conhecido como "Diálogo da Divina Providência" -, descreve esse episódio da vida dos apóstolos como "a primeira conversão". A santa nada mais faz do que repetir uma antiga tradição da Igreja, em que os santos padres relatam os três estágios da conversão do homem.

Conforme o ensinamento de Santa Catarina de Sena, a primeira conversão se dá no chamado de Cristo. Há uma iniciativa de Deus. Ele vem para nos tornar "pescadores de homens". A segunda conversão, por sua vez, se dá no calvário. A fé do homem é forjada pela dor e pelo risco de se perder. Já a terceira conversão, momento em que abandonamos todas as paixões desordenadas para amar somente a Deus, ocorre em Pentecostes. Jesus envia o seu Espírito Santo sobre nós, encaminhando-nos à missão de evangelizar, isto é, a ser "pescador de homens". E, neste sentido, os apóstolos são os nossos maiores modelos.

Mas o que é interessante em toda esta questão é justamente a ação de Deus. Santa Catarina nos faz perceber aquilo que o amado papa Bento XVI já nos disse: "ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo". É Jesus quem toma a primeira iniciativa, vindo ao nosso encontro. Deus nos amou por primeiro. A primeira conversão, portanto, depende muito mais da graça divina do que do nosso próprio esforço. Reconhecemo-nos dependentes da graça divina. É ela que nos dá o impulso para deixar as redes, ou seja, o que nos prende, e segui-Lo. E essa graça nos é concedida no batismo, este sacramento que nos eleva acima de todas as outras criaturas.

Com efeito, neste primeiro estágio da conversação, encontramo-nos na condição de São Pedro, quando da entrada de Cristo em seu barco. Ele diz: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador" (Cf. Lc 5, 8). Ora, Pedro vê-se indigno da presença de Deus ao mesmo tempo em que quer estar perto d'Ele para amá-Lo e adorá-Lo. E age dessa maneira porque é a luz de Deus que o faz enxergar as próprias misérias, os próprios pecados.

A pessoa que se converteu vive um dilema entre o "homem velho" e o "homem novo". De fato, ele ama sinceramente a Deus e, ato contínuo, ama desordenadamente a si mesmo. Há um abandono dos pecados mortais, mas ainda existem resquícios dos pecados veniais, que só serão vencidos por meio da mortificação e da renúncia. À medida que ele se afasta desses pecados, por sua vez, ele começa a receber a recompensa de Deus: as chamadas consolações espirituais. É o que vemos na cena do Monte Tabor. Tomado pela beleza da transfiguração de Cristo, Pedro lança a proposta: "Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias" (Cf. Mt 17, 4). É a atitude de quem ainda necessita de uma nova conversão. Deus nos consola, mas podemos acabar transformando esses consolos em novo pecado. Sentir consolos não é sinônimo de conversão; mudança de vida, sim!

A partir do momento em que eles se convertem em obstáculo, Deus os cancela, pois deseja nosso crescimento em santidade. Trata-se da pedagogia divina: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu vos dei leite a beber, e não alimento sólido que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais" (Cf. 1 Cor. 3, 1-2).

São João da Cruz explica-nos algo semelhante no seu livro "A noite escura da alma"; ele escreve que, no estágio da primeira conversão, os pecados capitais vão se convertendo em pecados espirituais. O homem passa a ter gula na oração, a desejar os prazeres do louvor, a buscar as consolações de Deus e não o Deus das consolações. E isso é extremamente grave, porque retarda o crescimento da alma. Por isso, Deus os retira.

Deus nos lança na chamada aridez espiritual, para que possamos lutar e vencer nossas tentações. Diz Ele a Santa Catarina de Sena: "Conforme expliquei ao tratar dos estados da alma (18.1.2), retiro-me das almas a fim de que elas progridam no meu amor. Embora a alma continue em estado de graça, ausento-me quanto às consolações e deixo o espírito na aridez, tristonho e vazio."

Vemos, deste modo, que necessitamos da graça de Deus para nos converter. E é Ele quem nos move a lutar contra nossas tendências pecaminosas, até chegarmos ao terceiro estágio. Essa luta, obviamente, supõe algumas quedas e até riscos. Mas, se estivermos seguros da presença de Deus, "se fizermos muitos sacrifícios, muita penitência, se visitarmos o Santíssimo Sacramento" poderemos superá-la, poderemos vencê-la, "afastando a ira de Deus sobre nós com os nossos esforços, pedindo perdão com a sinceridade de nossas almas", como nos ensinou Nossa Mãe em Garabandal. Não nos esqueçamos de que "já estamos nos últimos avisos" e de que, nas coisas de Deus, ou se progride, ou se regride.

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana


Pe.Viana, é o pároco da paróquia do Santuário de S. José Operário, Tatuí, Estado de S. Paulo, Brasil. É colaborador do Apostolado de Garasbandal em língua portuguesa, Brasil e Portugal.


Apostolado de Garabandal, Janeiro de 2023