Meditação do Evangelho – 3º Domingo da Quaresma e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

16-03-2023

Viver Garabandal: Garabandal e "a sede de Deus"



Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

Celebramos com a Igreja, neste final de semana, o Terceiro Domingo da Quaresma. Este 3º Domingo de Quaresma é caracterizado pelo célebre diálogo de Jesus com a mulher samaritana, narrado pelo evangelista João.

Em sua viagem para a Galiléia, Jesus detém-se no sopé do Monte Ebal, em uma das populações de samaritanos, Sicar, onde estava o famoso poço do patriarca Jacó, para orgulho de seus habitantes. Samaria fazia parte do Reino do Norte de Israel. Depois de cair nas mãos dos assírios (722 a.C.), a população terminou se misturando com os pagãos levados para lá. Mais tarde, o rei judeu João Hircano destruiu o templo samaritano erguido no monte Garizim. Por isso, apesar de seu passado comum, a inimizade entre judeus e samaritanos era centenária (cf. 2 R 17.34-40).

Mas Jesus não tem receio de parar em Sicar. Cansado da viagem e na hora do almoço, o Mestre envia os seus discípulos para comprar alimentos e se senta junto ao poço para esperar. É então que chega uma samaritana com seu cântaro e começa um diálogo e um encontro entre dois anseios simbolizados na água e que se cumprirão: o anseio divino de salvar os homens e a sede de Deus que há neles. A mulher ia todos os dias tirar água de um antigo poço, que remontava ao patriarca Jacó, e naquele dia encontrou ali Jesus, sentado, «cansado da viagem» (Jo 4, 6).

Santo Agostinho comenta: «Não é sem motivo que Jesus se cansa... A força de Cristo criou-te, a debilidade de Cristo voltou a criar-te... Com a sua força criou-nos, com a sua debilidade veio à nossa procura» (In Ioh. Ev., 15, 2). A fadiga de Jesus, sinal da sua verdadeira humanidade, pode ser vista como um prelúdio da paixão, com a qual Ele completou a obra da nossa redenção. Sobretudo, no encontro com a Samaritana no poço, sobressai o tema da «sede» de Cristo, que culmina com o seu brado na cruz: «Tenho sede» (Jo 19, 28).

Esta sede, como o cansaço, tem uma base física. Mas Jesus, como diz ainda Agostinho, «tinha sede da fé daquela mulher» (In Ioh. Ev. 15, 11), assim como da fé de todos nós, do nosso amor, da nossa presença. Deus Pai enviou-o para saciar a nossa sede de vida eterna, concedendo-nos o seu amor, mas para nos oferecer esta dádiva, Jesus pede-nos a nossa fé e a nossa correspondência amorosa. A onipotência do Amor respeita sempre a liberdade do homem; bate à porta do seu coração e aguarda com paciência a sua resposta.

No encontro com a Samaritana ressalta-se em primeiro plano o símbolo da água, que alude claramente ao sacramento do Baptismo, nascente de vida nova para a fé na Graça de Deus. Com efeito, este Evangelho faz parte do antigo itinerário de preparação dos catecúmenos para a iniciação cristã, que ocorria na grande Vigília da noite de Páscoa. «Aquele que beber da água que eu lhe der — diz Jesus — jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der tornar-se-á nele a fonte de água, que há-de jorrar para a vida eterna» (Jo 4, 14). Esta água representa o Espírito Santo, o «dom» por excelência que Jesus veio trazer da parte de Deus Pai. Quem renasce da água e do Espírito Santo, ou seja, no Baptismo, entra numa relação real com Deus, uma relação filial, e pode adorá-lo «em espírito e verdade» (Jo 4, 23.24), como revela de novo Jesus à mulher samaritana. Graças ao encontro com Jesus Cristo e ao dom do Espírito Santo, a fé do homem alcança o seu cumprimento, como resposta à plenitude da revelação de Deus.

"Recolhei os olhos da alma e revivei devagar essa cena, sugeria são Josemaria Escrivá: (...) É comovente observar o Mestre esgotado. Além disso, tem fome: os discípulos foram ao povoado vizinho buscar alguma coisa que comer. E tem sede. Mas, mais do que a fadiga do corpo, consome-o a sede de almas. Por isso, quando chega a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de Cristo lança-se, diligente, a recuperar a ovelha perdida. Esquece o cansaço, a fome e a sede".

No Antigo Testamento, "a água viva" simboliza a ação de Deus (cf. Jer 2,13; Za 14,8; Ez 47,9). E, na verdade, Jesus é "o dom de Deus" que a mulher ignora e a água viva que se fará nela "uma fonte que salta para a vida eterna" é a graça espiritual. Por isso Jesus prepara a mulher para recebê-la, fazendo-a reconhecer a sua situação de pecado, com cinco maridos diferentes. A samaritana se interessa então pela Sua relação com Deus e aonde deve ir adorá-Lo. Depois da instrução do Mestre, ela percebe a autêntica sede de sua alma: menciona já o Messias, descobre que O tem diante de si e vai anunciá-Lo aos seus.

Esta famosa passagem do Evangelho de São João narra um itinerário de conversão precioso provocado por Jesus. Em certo sentido, tem um caráter universal e todos nós podemos nos ver refletidos nele.

A sede de Jesus não era tanto de água, quanto de encontrar a Samaritana para lhe abrir o coração: pede-lhe de beber para evidenciar a sede que havia nela mesma. A mulher comove-se com este encontro: dirige a Jesus aquelas perguntas profundas que todos temos dentro, mas que muitas vezes ignoramos. Também nós temos tantas perguntas para fazer, mas não encontramos a coragem de as dirigir a Jesus!

Cada um de nós pode identificar-se com a mulher samaritana: Jesus espera-nos, especialmente neste tempo de Quaresma, para falar ao nosso, ao meu coração. Permaneçamos um momento em silêncio, no nosso quarto, ou numa igreja, ou num lugar afastado. Ouçamos a sua voz que nos diz: «Se conhecesses o dom de Deus...».

Mas, o que isso tem a ver com Garabandal?

Sabemos que as Mensagens de Garabandal residem em um elemento fundamental: a Santíssima Eucaristia. Na Primeira Mensagem, Nossa Mãe disse que "temos que visitar o Santíssimo Sacramento" e, na Segunda Mensagem, disse que "à Eucaristia dá-se cada vez menos importância". Aqui, reside o elemento de ligação entre o Evangelho do Terceiro Domingo da Quaresma e as Mensagens de Garabandal; afinal, nos Sacrários está o Senhor, que tem sede do nosso amor e da nossa presença e, portanto, somos chamados a saciá-Lo.

Infelizmente, muitos membros da Igreja têm perdido a fé na Santíssima Eucaristia e, para muitos, ela é apenas um símbolo ou um sinal. Basta que olhemos um pouco para nossas igrejas: capelas do Santíssimo vazias, padres sem zelo e piedade estão espalhados por todos os cantos. Diante disso, devemos nos voltar ao que nos ensina a Fé Católica, por meio de seu Catecismo, que nos diz: "A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã» (146). «Os restantes sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa»" (1324).

Jamais podemos pensar que no Sacrário está um objeto ou uma "coisa". Lá está o Senhor! O mesmo Senhor com quem a Samaritana encontrou. O mesmo Senhor que saciou a sua sede de amor e que disse que também estava com sede. Pela fé, cada Sacrário é como o poço, onde temos a oportunidade de nos encontramos com o Senhor. Lá, ele nos espera, nos olha e nos diz: "Dá-me de beber!", "dá-me o teu amor, a tua presença, a tua companhia, o teu tempo, o teu olhar!"; e isso, por meio da Adoração Eucarística.

O Catecismo da Igreja nos diz: "o modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela «como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos» (203). No santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos, verdadeira, real e substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo» (204). «Esta presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem»" (1374).

Com isso, podemos afirmar que nos Sacrários está "o Cristo completo", com Sua Divina Presença: seu corpo, seu sangue, sua alma e sua divindade. O amor radical do Senhor por nós, fez com que Ele permaneça nos Sacrários, para que possamos encontra-lo. O amor nosso amor radical pelo Senhor, faz com que nos dirijamos aos Sacrários, para que possamos adorá-Lo e, assim, saciamos a nossa sede de vida, nos unindo ao Senhor; e saciamos a Sua divina sede, dando a Ele o nosso amor e a nossa presença. Que lindo mistério!

Não banalizemos esse grande mistério de amor! No Sacrário está o nosso tudo, porque nele está o Senhor e, se lá está Deus, "o sacrário deve ser colocado num lugar particularmente digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento", como nos ensina a Santa Igreja, no Catecismo (1379).

O papa São João Paulo II disse: "A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele na adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais".

É isso que a Santíssima Virgem Maria vem nos exortar, em Garabandal; vem nos lembrar que que não podemos viver sem Jesus Eucarístico, que é o nosso tudo. Vem nos lembrar que somente Ele pode saciar a sede do coração humano, porque fomos criados para Ele; vem nos lembrar que, diante de tão grande presente de amor, não podemos ficar indiferentes, mas devemos corresponder ao Seu Amor Divino com a nossa adoração.

É verdade que alguns pensam que "adorar é perder tempo"; coitados! Não entenderam que não há nada mais importante e necessário do que estar com o Senhor, porque foi para isso que fomos chamados.

Infelizmente, estamos viciados no trabalho, nos projetos e nas pastorais. Gastamos a maior parte do nosso tempo fazendo: fazemos reuniões para preparar reuniões; reuniões para avaliar reuniões; sempre assim! Com o passar do tempo, estamos tão ocupados "fazendo coisas", que acabamos deixando o Senhor sozinho e, aos poucos, nos afastamos Dele.

Para estes, que se tornaram "funcionários de Deus", Ele diz: "Nenhum momento dedicado à minha presença passará sem sua devida recompensa. Cada momento oferecido a Mim é precioso aos meus olhos e torna-se fecundo para toda a Igreja. O que peço, na verdade, são momentos de pura adoração e amor oferecidos a Mim por um coração simples e pequenino!"

É isso, meus irmãos, gastemos mais tempo com Deus do que nos ocupando com as coisas de Deus. Jamais nos esqueçamos de que a fecundidade de nosso apostolado e da nossa vocação dependem da nossa união com o Senhor! Garabandal, dentre outras coisas, é um grande chamado para que a nossa adoração a Jesus Eucarístico não cesse jamais!

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana