Meditação do Evangelho – 1º Domingo da Quaresma e reflexão sobre a mensagem de Garabandal

26-02-2023

       Viver Garabandal: Garabandal e "as sete palavras"


Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

Celebramos neste final de semana o Primeiro Domingo da Quaresma. Não podemos considerar esta Quaresma como uma época a mais, como uma simples repetição cíclica do tempo litúrgico. Este momento é único; é uma ajuda divina que temos que aproveitar. Jesus passa ao nosso lado e espera de nós - hoje, agora - uma grande mudança. Ele nos dá uma nova oportunidade, uma nova chance. Por Misericórdia de Deus, podemos recomeçar e podemos, com a graça de Deus, ser mais generosos no amor.

O Tempo litúrgico da Quaresma é constituído de quarenta dias que nos preparam para a celebração da Santa Páscoa; é um tempo de compromisso particular no nosso caminho espiritual. O número quarenta aparece várias vezes na Sagrada Escritura. De modo particular, como sabemos, ele evoca os quarenta anos durante os quais o povo de Israel peregrinou no deserto: um longo período de formação para se tornar o povo de Deus, mas também um longo período em que a tentação de ser infiel à aliança com o Senhor estava sempre presente. Quarenta foram também os dias de caminho do profeta Elias para chegar ao Monte de Deus, o Horeb; assim como o período que Jesus passou pelo deserto antes de começar a sua vida pública e onde foi tentado pelo diabo.

No Evangelho desse final de semana, estamos com Jesus no Deserto, no qual Ele se permite ser tentado. De fato, em nosso caminho, a tentação sempre se fará presente e, por isso, devemos contemplar Jesus para que possamos aprender com Ele a vencermos as tentações que, constantemente, querem nos afastar da vontade de Deus.

Antes de tudo o deserto, onde Jesus se retira, é o lugar do silêncio, da pobreza, onde o homem permanece desprovido das ajudas materiais e se encontra diante dos pedidos fundamentais da existência humana. Lá, é impelido a ir ao essencial e, precisamente por isso, é mais fácil encontrar Deus. Em nossa vida, todos nós precisamos ir ao deserto, fugir das agitações e reservar tempo para Deus, para que Ele possa falar ao nosso coração.

O deserto é inclusive o lugar da morte, onde não há água, onde não há vida; é o lugar da solidão, onde o homem sente mais intensa a tentação. Jesus vai ao deserto, e ali padece a tentação de deixar o caminho indicado pelo Pai para seguir outras veredas, mais fáceis e mundanas, (cf. Lc 4, 1-13). Assim, Ele assume as nossas tentações, traz consigo a nossa miséria, para vencer o maligno e para nos abrir o caminho rumo a Deus, a senda da conversão. Meditar sobre as tentações às quais Jesus foi submetido no deserto é um convite para cada um de nós a responder a uma pergunta fundamental: o que conta verdadeiramente na minha vida?

Na primeira tentação, o diabo propõe a Jesus que transforme uma pedra em pão, para saciar a fome. Jesus afirma que o homem vive também de pão, mas não só de pão: no fundo, ele tem fome da Verdade, fome de Deus; e sem saciar essa sede o homem não se pode salvar (cf. vv. 3-4).

Na segunda tentação, o diabo propõe a Jesus o caminho do poder: conduz Jesus para o alto e oferece-lhe o domínio do mundo; mas não é este o caminho de Deus: para Jesus é evidente que não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade e do amor (cf. vv. 5-8); há, no fundo, um grande convite ao desapego, à renúncia daquilo que, aos poucos, vai ocupando o lugar de Deus em nossa vida.

Na terceira tentação, o diabo propõe a Jesus que se lance do pináculo do Templo de Jerusalém para se fazer salvar por Deus mediante os seus anjos; ou seja, que realize algo de sensacional para pôr à prova o próprio Deus; mas a resposta é que Deus não é um objeto que está à disposição para realizar nossos desejos, como o "gênio da lâmpada": é o Senhor de tudo (cf. vv. 9-12) e somos nós que devemos servi-Lo.

Qual é o núcleo das três tentações que Jesus sofre? É a proposta de instrumentalizar Deus, de o usar para os próprios interesses, glória e sucesso. As tentações, na verdade conduzem o homem para que se coloque no lugar de Deus, removendo-o da sua existência e fazendo-o parecer supérfluo, desnecessário.

Infelizmente, especialmente em nossos dias, transformamos Deus em um objeto de consumo, que tem a única função de me satisfazer: me dar graças, me a bençoar, aceitar, tirar as dificuldades, dar paz e nada mais do que isso. As igrejas, se transformaram em lugares de emoções, de sensações e quase nunca transformam ninguém; afinal, poucos são aqueles que, de fato, estão em busca de conversão.

Então, cada um deve interrogar-se: que lugar tem Deus na minha vida? O Senhor é Ele, ou sou eu? Estou buscando um "deus" que se adapte às minhas necessidades ou estou buscando a Deus para me converter?

Superar as tentações de submeter Deus a nós mesmos e aos nossos interesses, ou de o pôr num canto, e converter-se à justa ordem de prioridades, reservar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que cada cristão deve percorrer sempre de novo e é isso que devemos buscar nessa Quaresma. Em Garabandal, Nossa Senhora afirma que cada vez mais se dá menos valor a Deus e, por isso devemos nos voltar a Ele, devemos nos converter.

«Converter-se», um convite que ouviremos muitas vezes durante a Quaresma, significa seguir Jesus de modo que o seu Evangelho seja guia da nossa vida; quer dizer deixar que Deus nos transforme, deixar de pensar que nós somos os únicos construtores da nossa existência; significa reconhecer que somos criaturas - fracas e miseráveis - que dependemos de Deus, do seu amor, e que só «perdendo» a nossa vida nele podemos ganhá-la, na eternidade.

A verdadeira conversão, que nos conduz à salvação, exige que façamos as nossas escolhas à luz da Palavra de Deus. Hoje não podemos continuar a ser cristãos como uma simples consequência do fato de vivermos numa sociedade que tem raízes cristãs: até quem nasce de uma família cristã e é educado religiosamente deve, todos os dias, renovar a escolha de ser cristão, ou seja, reservar a Deus o primeiro lugar, diante das tentações que uma cultura secularizada lhe propõe continuamente, diante do juízo crítico de muitos contemporâneos.

É dentro disso que entram as Mensagens de Garabandal. Inicialmente, quando as pessoas se aproximam de Garabandal, vão à procura de coisas extraordinárias e, quando se deparam com mensagem simples e puras, próprias de uma linguagem infantil, se decepcionam. Maria Herrero, uma senhora contemporânea às aparições disse: "ao terminarmos de ouvir a mensagem, que foi transmitida de grupo em grupo, fiquei muito decepcionada; 'que valor tinha aquilo?'; parecia ser algo tão infantil!".

Não é para estranhar que, ainda hoje, muitos ficam decepcionados, porque esperam encontrar algo novo, algo emocionante e algo que seja interessante e, talvez por isso, se prendam tanto "ao aviso, ao milagre e ao castigo", que também fazem parte das Mensagens, mas que não constituem o seu núcleo central.

Na verdade, muitos correm atrás de novidades e se esquecem do mais importante, que é a conversão. Muitos ficam "entretidos" com elocubrações, com possibilidades, com discussões que entretém a mente, mas que não convertem, de fato. Quando lemos as Mensagens de Garabandal, à luz da fé, descobrimos que, na aparente insignificância das palavras e dos instrumentos (as videntes), fala aos homens O mesmo que, desde sempre, vem dirigindo-lhes palavras que "não podem passar", ainda que "passem o céu e a terra" (cf. Mc.13,31); o Bom Deus, quando se comunica aos homens, não está preocupado em dizer coisas interessantes, mas em dizer o que precisamos escutar e viver, tendo em vista a nossa salvação.

O que acontece nas Mensagens de Garabandal é, sem dúvida, uma proclamação nova do "de sempre". O conteúdo é o mesmo,

  • porque o caminho do céu continua sendo o mesmo,
  • porque quem quiser seguir Jesus vai ter que se renunciar,
  • porque vai ter que carregar a cruz todos os dias e vai ter que imitá-Lo.

No fundo,

  • continua sendo verdade que sem o Senhor não podemos fazer nada,
  • que sem a Igreja, e seu verdadeiro Magistério, nos perderemos.
  • Continua sendo verdade que a vida espiritual da alma vem pelos Sacramentos,
  • que a força da alma vem da oração,
  • que precisamos de sacrifícios,
  • que precisamos de penitência,
  • que precisamos nos confessar e ser bons.
  • Continua sendo verdade que o céu existe,
  • que o inferno existe,
  • que só temos essa vida para nos converter e nos emendar.
  • Continua sendo verdade que o mesmo Deus que é rico em misericórdia e que nos ama muito, é também o justo juiz, que retribuirá a cada um conforme as suas obras.
  • Continua sendo verdade que o tempo está passando,
  • que a taça já está transbordando e que, por isso, devemos nos converter e nos emendar, caso contrário, um castigo muito grande virá sobre nós.

Por fim, nas Mensagens de Garabandal encontramos aquilo que mais precisamos ouvir e que, na verdade, menos gostamos de escutar; afinal, os homens gostam de escutar coisas que emocionem, que consolem, que tragam um sensacionalismo, que os mantenham entretidos, mas não gostam de escutar a verdade, as coisas exigentes, especialmente, coisas que os "forcem" a mudar de vida.

Devemos, irmãos e irmãs, especialmente neste tempo Quaresmal, voltar ao coração de Garabandal, que são as sete palavras iniciais: "Temos que fazer muitos sacrifícios, muita penitência..." e entender que não haverá conversão sem isso, sem vivermos concretamente o que Nossa Mãe nos diz, afinal, não há salvação sem o Mistério da Cruz e, nisso, todos nós, pelo sacramento do Batismo, somos participantes. Portanto, abramos nosso coração e vivamos Garabandal, preparando-nos para aquilo que a Divina Providência ainda nos enviará. Não percamos mais tempo!

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!



Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana

Apostolado de Garabandal em língua portuguesa, Brasil e Portugal