Garabandal e a “luta pelos pastores”

14-05-2023

Queridos irmãos e irmãs, tudo bem? Que sejam louvados Jesus e Maria!

O quarto domingo da Páscoa é conhecido como o "domingo do Bom Pastor". O evangelho deste dia contém em todos os ciclos litúrgicos alguma parte da passagem de João 10,1-30; um conjunto de discursos de Jesus sobre imagem do pastor e das ovelhas. Na passagem deste domingo Jesus se refere à proteção que Deus exerce sobre os homens que se refugiam nEle.


A imagem do pastor e das ovelhas tem muitas raízes bíblicas. Personagens importantes da história de Israel foram pastores. Como, por exemplo, Abel (Gên. 4,2), Moisés (Ex 3,1ss.) ou Davi (1S 16, 11-13). O próprio Davi e seus descendentes seriam, como também foi Josué (Num 27, 17s.) pastores do seu povo. No entanto, é a Deus que muitas vezes se atribui a função do pastor que cuida de "suas ovelhas", os seres humanos (cfr. Gên. 49,15; Is 40,11; Ez 34,5; Sal 23,1; Si 18,13).

O evangelho segundo são João menciona que Jesus pronunciou as palavras deste domingo durante a festa judia da Dedicação do Templo. Esta festa comemorava a purificação do lugar e a dedicação do altar dos sacrifícios durante a época dos Macabeus, que fortificaram as muralhas para proteger o recinto sagrado de profanações similares à de Antíoco IV Epífanes (cfr. I Mac. 4, 52-61 e 2 Mac. 10, 1-9). Jesus se encontrava, além disso, no chamado pórtico de Salomão. Talvez este recinto amuralhado, com sólidas colunas, justifique a referência que Jesus faz à proteção que exerce sobre suas ovelhas.

No evangelho que escutamos nesse final de semana, Jesus narra uma parábola. Naquele tempo, os povoados tinham seu curral (redil) comunitário. O curral tinha um portão, por onde os pastores entravam para chamar as suas ovelhas (que conheciam a voz de seu pastor), e por onde as ovelhas passavam para ir pastar.

Nesse contexto, também apareciam sujeitos estranhos, que abriam uma brecha na cerca em vez de entrar pela porta: eram os ladrões. Até aí a parábola (versos 1-5). Depois, Jesus explica: Ele mesmo é essa porta por onde pastores e as ovelhas devem passar.

O pastor que não passa por Ele, não serve para os fiéis; ou seja, um pastor autêntico não apascenta as ovelhas por si mesmo, ou segundo "sua própria cabeça", mas "empresta" sua voz para que o próprio Senhor apascente suas ovelhas; na verdade, são "pastores no Pastor". De forma prática, os autênticos pastores são, antes, ovelhas que se deixaram conduzir pelo Bom Pastor; depois disso, bem unidos a Ele, são capazes de conduzir as demais ovelhas, segundo os princípios do Evangelho e da Doutrina ensinada pela Santa Igreja.

Se é verdade que os pastores "devem passar por Cristo" para serem pastores de verdade, também os fiéis têm de passar por Ele para encontrar a vida que procuram: precisam do contato com a Palavra, precisam da Catequese, precisam da Doutrina, precisam da vida de oração, precisam dos Sacramentos e, de modo muito particular, precisam do Santíssimo Sacramento, onde está plenamente o Bom Pastor de nossas almas.

Pastor mesmo é quem passa através de Jesus e faz o rebanho passar por Ele. Neste sentido, as pregações apostólicas apresentadas nas leituras de hoje são eminentemente pastorais. São obra de pastores que passaram por Cristo e nos conduzem a Ele e – através dele – ao Pai. Veja só, na 1ª leitura o apelo à conversão e a entrada no "rebanho" mediante o batismo, depois da pregação de Pedro. E, na 2ª leitura Pedro lembra aos fiéis que, outrora ovelhas desgarradas, eles estão agora junto ao verdadeiro pastor, Jesus, inseridos em Seu redil, que é a Igreja.

O sentido fundamental da pastoral é ir aos homens por Cristo e conduzi-los através Dele ao verdadeiro bem. As maneiras podem ser muitas; antigamente, mais paternalista talvez; hoje, mais participativa. Mas pode-se chamar de pastoral uma mera ação social ou política associada a setores da Igreja ou a suas instituições? Isso ainda não é, de per si, pastoral. Para ser pastoral, a atuação precisa ser orientada pelo projeto de Cristo, que ele nos revelou dando sua vida por nós, deve ter o objetivo de conduzir a Cristo, inserir na Igreja e fazer com que cada cristão viva, de fato, uma vida nova.

Daqui nascem duas grandes urgências: os pastores devem ir às ovelhas, para que não se percam; e as ovelhas devem fugir dos maus pastores que querem roubá-las. Diante do avanço do mal, não podemos ficar de braços cruzados e não podemos nos acovardar; é necessário que os pastores ou, seja, aqueles que receberam o Sacramento da Ordem, assumam os seus postos o ofereçam às almas a pregação do autêntico magistério da Igreja, por meio de uma boa catequese, de uma fundamentada pregação, por meio de uma firme direção espiritual e, claro, por meio da fiel celebração dos Sacramentos da Santa Igreja.

Infelizmente, muitas comunidades têm sido conduzidas por pastores covardes e tímidos, que têm medo de dizer a verdade, que mantém os fiéis no erro e na vida morna, que não preparam bem suas homilias, que celebram sem piedade, sem zelo, que mantém a Igreja fechada, o sacrário trancado e que não gostam muito de oração. Não podemos mais continuar assim! Afinal, enquanto perdemos tempo com reuniões intermináveis, com discursos vazios e com quermesses e outras atividades de entretenimento, as almas se perdem e são enganadas por falsos pastores, por ladrões de almas que, aos poucos, vão assumindo o lugar do bom pastor.

É triste perceber que muitas almas se perdem diante dos olhos dos pastores. Há pastores que são de dentro da casa das ovelhas, que comem com elas, que "fazem parte da família", mas que são coniventes com tantos pecados: fornicação dos jovens, adultério dos pais, bebedeiras, brincadeiras mundanas e outras coisas mais.

Ciente desse contexto assustador, a Santíssima Virgem Maria, Nossa Mãe, vem em auxílio da Igreja. Ela é a Divina Pastora que, ciente de que cada alma custou o Sangue do Seu Divino Filho, não quer que ninguém se perca e, por isso, por meio de Suas aparições, coloca-se com uma "pastora", sem disposta a guiar e conduzir as ovelhas ao verdadeiro aprisco de Seu Divino Filho: à Igreja Católica.

Em Garabandal, Nossa Mãe age com muita clareza e firmeza, sem perder o seu "ar" materno. Ela mesma reconhece e afirma que muitos bispos e sacerdotes estão no caminho da perdição, afastados da verdadeira fé da igreja, buscando mundanizar a igreja para agradar as pessoas. Infelizmente, esses são os maus pastores, que não "entram pela Porta", mas querem criar "portas novas", mais atraentes, mais interessantes, menos exigentes, que podem até atrair pessoas, mas que não transformam ninguém.

Na Segunda Mensagem de Grabandal (18/06/1965), quando Nossa Mãe fala sobre os pastores que estão no caminho da perdição, ela afirma que muitas almas também estão indo para esse caminho. Eis uma verdade: para destruir as almas, para corromper as ovelhas, o mundo e o demônio corrompem, em primeiro lugar, o coração do pastor. Penso que, aqui, encontramos uma grande denúncia profética de Garabandal. Mas, o que fazer diante disso? É a própria Virgem Maria quem dá a resposta.

A primeira coisa, é que devemos entender que, espiritualmente falando, somos ovelhas, e esse é o nosso lugar! Ser "ovelha", significa que não somos capazes de guiar-nos sozinhos, não somos capazes conduzir a nossa vida segundo as nossas vontades, desejos e de acordo com nossos pensamentos. Ainda que, por exemplo, eu seja um sacerdote, jamais deixarei de ser ovelha e, só serei capaz de conduzir bem as ovelhas que o Senhor me confiar se, antes, for obediente e dócil à Sua voz, à Sua Palavra e à Sua vontade.

Sobre isso, encontramos um ensinamento muito preciso no Catecismo da Igreja Católica: "Chamado à bem-aventurança, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. O auxílio divino é-lhe dado em Cristo, pela lei que o dirige e na graça que o ampara" (n.1949); ou seja, somos chamados à bem-aventurança, à vida eterna, mas não conseguimos alcançar essa meta sozinhos, precisamos ser guiados, conduzidos, direcionados; precisamos na lei do Senhor que nos guia pelo caminho mais seguro e, mesmo que passemos pelo vale tenebroso, a nenhum mal devemos temer, porque o Bom Pastor está conosco, por meio dos pastores que Ele constituiu e, assim, com bastão e com cajado, as ovelhas caminham em segurança.

É por isso que, dentro desse contexto, nas Mensagens, a Santíssima Virgem Maria diz que devemos visitar o Santíssimo Sacramento com frequência; em outras palavras, devemos nos voltar para Deus, devemos coloca-Lo em primeiro lugar em nossa vida e precisamos permitir que Ele nos apascente e nos conduza, para que a felicidade e todo o bem possa seguir-nos por toda a nossa vida e para que possamos habitar na casa do Senhor pelos tempos infinitos.

Além disso, nas Mensagens de Garabandal encontramos uma outra "resposta" para uma ação concreta que podemos e devemos fazer diante desse contexto tão grande e difícil da corrupção dos pastores e, consequentemente, da perda das ovelhas: a necessidade de lutarmos, espiritualmente, pelos pastores. É claro que, como ovelhas, todos queremos bons pastores: uma boa pregação, uma boa catequese, um bom direcionamento, etc.; porém, nesses tempos tão difíceis, a Santíssima Virgem Maria, como a Divina Pastora, vem despertar-nos para essa grande missão: a de lutarmos pelos pastores. Como? Ela responde!

Primeiramente, temos que entender que necessitamos de armas espirituais; por isso Ela ensina:

  • "temos de fazer muitos sacrifícios, muita penitência, visitar o Santíssimo Sacramento com frequência..." e nos colocarmos diante de Jesus Eucarístico, pelos nossos sacerdotes, em nome deles, adorando por eles, intercedendo por eles;
  • "Deveis afastar a ira de Deus sobre vós com os vossos esforços" e, particularmente, é muito necessário que ofereçamos reparações pelos pecados dos sacerdotes – jejuns, abstinências, penitências corporais e outros sacrifícios, em nome dos sacerdotes;
  • Pedir perdão a Deus com a sinceridade das nossas almas, (Ele vos perdoará!), pedirmos perdão, também, pelos pecados dos sacerdotes e, claro, primeiramente dos nossos próprios pecados;

Enfim, entendo que, nesse Quarto Domingo da Páscoa, a Santíssima Virgem Maria, Nossa Mãe, nos chama à uma grande missão: a de lutarmos pelos nossos bispos e sacerdotes, através de um apostolado que chamamos de Maternidade Espiritual.

Se é verdade que muitos pastores têm se perdido e, por causa disso, muitas ovelhas têm sido roubadas pelos "ladrões", vamos lutar pelos sacerdotes: lutar para que os bons pastores sejam perseverantes e lutar pela conversão dos maus pastores que, ainda que sejam maus, são sacerdotes e precisam da nossa ajuda. Você aceita essa missão? Em breve, traremos mais detalhes desse grande apostolado que iremos viver!

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Senhor, o Bom Pastor de nossas almas, nos defenda e nos conduza! Que a Doce Virgem Maria, a Divina Pastora, socorra aqueles que estão quase se perdendo, para retornem ao redil da Santa Igreja.

Com minhas orações e bênção sacerdotal,

Pe. Viana

Apostolado de Garabandal em língua portuguesa