S. João de Deus

Os irmãos de S. João de Deus


Testemunhas da comunhão de Conchita em Garabandal

O caminho que estes três irmãos da companhia de S. João de Deus, foi a da antiga estrada do Cantábrico, por comboio quem vai desde Celorio-LLanes-Unquera-Pesués. Depois havia um autocarro que subia a montanha, passando por Puentenansa e pelo Cosío. Anos mais tarde, esse autocarro fazia a estrada de Cabezón de la Sal até Cosío.

Quando estávamos nas vésperas dos nossos exercícios espirituais em Celorio (Astúrias), nós os três pusemo-nos de acordo e pela manhã bem cedo, quase sem saber para onde íamos, levantamo-nos nas primeiras horas da manhã, por volta das cinco aproximadamente. No entanto, um dos nossos companheiros, quando fomos chamá-lo, contestou-nos e acabou por não vir connosco.

Saímos pela manhã, por volta das sete e dez da manhã seguimos de comboio que nos levava até Unquera. Durante o trajecto perguntamos ao revisor como poderíamos ir até Garabandal já que, como referi no princípio, metemo-nos no comboio sem saber bem para onde íamos. Chamei a este comboio, o comboio da Divina Providencia.

Este bom senhor indicou-nos todas as combinações possíveis, apesar de nos ter dito no início que seria quase impossível subir a essa povoação. Chegamos a Llanes e o senhor a quem perguntamos, disse-nos de forma amável que devíamos chegar a Pesués e dali apanhar um autocarro em direcção ao Cosío.

Uma vez que tínhamos de esperar algum tempo pelo autocarro, decidimos pôr-nos a cominho até à próxima povoação. A uns duzentos metros mais à frente, quando íamos andando a pé, quase um pouco cansados, cruzamo-nos com uns homens a quem perguntamos como se podia subir a Garabandal. Eles indicaram-nos que seguramente ali no local passaria um camião, que nos poderia levar até lá.

Entre dúvidas e não dúvidas, nós seguimos o caminho, até que apareceu um táxi. Este táxi ia vazio, ia unicamente o motorista e só cabiam mais três pessoas. Quer dizer, se tivesse vindo o nosso outro companheiro que nos ralhou de manhã cedo, já não seria possível termos subido.

Esses homens indicaram ao taxista que queríamos subir a Garabandal. O taxista muito amável acedeu a esse pedido. No trajecto começamos a perguntar sobre as aparições, como eram as pessoas daquela povoação, o que é que as pessoas da povoação diziam de tudo aquilo que se passava, de tudo aquilo que se falava sobre Nossa Senhora e das meninas videntes.

Chegamos ao Cosío, e dali para chegarmos a Garabandal tínhamos de caminhar uns 6 quilómetros num caminho em muitas más condições. Disseram-nos então que havia dois procedimentos para lá chegar: ou subir a pé, ou alugando um táxi cujo taxista se chamava Fidelin.

Então encontramo-nos com um montão de gente que estava precisamente ali, à espera de subir para Garabandal e outros que entretanto já tinham descido de Garabandal. Recordo que nos encontramos com um médico catalão e perguntamos-lhe, que opinião tinha como psiquiatra, de tudo aquilo que diziam que era extraordinário. Disse-nos ele:

-- Para mim eu creio que tudo é sobrenatural, mas vocês subam, vejam e julguem vocês mesmos. Para mim, as videntes são meninas totalmente normais.

Pusemo-nos de acordo com Fidelín, que naquele momento chegava de Garabandal. Subimos no taxí, entusiasmou-se com a nossa ida, deu-nos todas as facilidades possíveis, contou-nos o que ele tinha visto, disse-nos que para ele tudo aquilo era sobrenatural. Íamos cada vez mais intrigados, e emocionados com tudo aquilo que se referia com Nossa Senhora. Apesar disso, seguíamos um pouco na espectativa e seguíamos um pouco no plano de meros curiosos, com boa-fé mas sem muitas crenças sobre tudo aquilo que tanto se discutia na altura.

Chegamos de táxi a Garabandal por volta das dez e um quarto, e paramos junto à casa de Mari Cruz. Esta menina encontrava-se no alpendre da sua casa juntamente com a sua irmã mais velha, a coser. Fizemos-lhe sinal que queríamos falar com ela.

Ela, de forma muito tímida nos saudou. Imediatamente começamos a abordá-la com perguntas. Algumas eram respondidas, mas outras mais íntimas e relacionadas com as suas aparições, só respondia com um simples sorriso.

Depois de estar uns dez minutos com ela aproximadamente, vimos que Jacinta, outra das videntes, subia por uma ruela. Foi Fidelin que nos disse que era Jacinta. Saudou-nos também com um sorriso muito angelical. Começamos de novo a abordá-la com perguntas, mas as respostas eram similares às de Mari Cruz.

Então aproveitamos para tirarmos algumas fotos com ela, e nesse momento apresentaram-se a nós uns senhores da Andaluzia. Todas as pessoas faziam comentários do que haviam visto, etc. Muitas das pessoas estavam ali há já alguns dias, estavam sem comer, e outros mortos de sono.

A todos nós, parecia-nos um pouco estranho, mas em vez de estarmos na mera curiosidade, dava-nos pena tudo aquilo porque tínhamos de ir em breve embora.

Nota: Os exercícios a que eles frequentemente se referem, são os exercícios espirituais, uns dias de oração e meditação profunda, de acordo com o modo de Santo Inácio de Loyola.

Disseram-nos que esta noite ia haver uma aparição e que iriamos ver como tudo isto era de Deus. Outros muito duvidosos, sorriam com algum sarcasmo. O taxista, ao ver a nossa perplexidade, e visto que naquela mesma noite tínhamos de estar em Celorio ( Astúrias) para começar os exercícios espirituais, prestou-se a levar-nos pela noite com uma lanterna, desde Garabandal até à povoação vizinha, uma vez que o táxi não andava de noite por aqueles caminhos.

Nós acedemos, entre muitas dúvidas e muitas interrogantes, e decidimos ver o que se verdadeiramente se passava.

Com base nisto, fomos comer qualquer coisa. Levamos connosco quatro sandes que pertencia a um dos companheiros que nos acompanhava. Subimos até ao sítio onde Fidelín nos disse que ocorriam as aparições, sentamo-nos junto àqueles " pinos " e estávamos comentando onde estava Conchita, e estávamos com pena de não ver Conchita porque segundo noticias estava a apanhar erva nos campos.

Qual não foi nossa surpresa quando começamos a comer as nossas sandes, vimos uma menina de uns doze anos acompanhada de outras meninas de dois, três anos aproximadamente. Esta menina levava nas suas mãos um véu. Nós, sem conhecê-la perguntamos se tinha visto Conchita. A resposta não se fez esperar: Sou eu.

Então, nós ao vermo-nos naqueles " pinos", acompanhados daquela menina, dissemos: vamos falar com ela.

Efectivamente, estivemos a falar com ela durante muito tempo. Convidamos Conchita para comer um pouco das nossas sandes, uma vez termos um bocadinho que tinha sobrado. Dissemos-lhe: olha, este bocadinho da sande é para ti. Ela respondeu-nos: Não posso, porque tenho que comungar.

Eram dez e meia, em ponto. Nós, por aquilo que disse sobre ir comungar, olhamos para o relógio para calcular se efectivamente esta menina podia comungar ou não se comesse aquele bocadinho de sande. Ela disse-nos:

-- Não posso comer porque dentro de duas horas vou comungar aqui.

Nós ficamos intrigados com todas aquelas coisas que aquela menina falava com tanta naturalidade. Falou-nos do Padre Pio, falou-nos das cartas que escrevia às pessoas sem saber direcções, falou-nos com uma tão grande naturalidade sobre o carinho que tinha Nossa Senhora para com todos e sobre como Nossa Senhora explicava-lhes quando se escrevia uma palavra com "b" ou com " v".

Começamos a notar algo de especial nesta conversação com a menina e a compreender mais sobre o carinho de Nossa Senhora, porque foi algo que me ficou gravado e a partir daqueles momentos comecei a olhar a Virgem de uma forma mais próxima. Conchita dizia-nos que Nossa Senhora preocupava-se não somente com as questões espirituais, mas também com o nosso bem material, das nossas dores de cabeça, de todas estas coisas que uma mãe se preocupa com os seus filhos, desde então que comecei a ver esta perspectiva das coisas...

Chegou entretanto o momento mais emocionante para todos nós, quando Conchita foi comungar ali mesmo junto a nós. As meninas pequenas estavam mais afastadas. Conchita deu uns passos, olhou-nos e de repente cai de joelhos. Um forte golpe como se fosse de uma rigidez de morto, digamos assim. Começou a entrar em êxtase, girando a cabeça para trás de uma maneira extraordinária. Nós assustamo-nos os três, e ficamos de joelhos. Entrou dentro de nós um Santo temor e um Santo gozo que não conseguimos explicar.

Então esta menina começou a benzer-se, ouvi que dizia umas palavras, vi a benzer-se e vi que abria a boca. Naquele momento eu abri os meus olhos no máximo, olhando para todos os sítios, especialmente para cima, para ver se observava o Anjo que ela nos tinha dito que lhe dava a comunhão. Não vi nada, mas vi que a menina estava realmente em estado de êxtase, vi com os olhos da alma que era tudo verdadeiro, e isso eu não sei explicar.

A menina abriu a boca, pôs a sua língua de fora e quando tirou a sua língua tive a intenção de pôr a mão diante da língua, não sei porquê, mas naquele momento, senti um temor tremendo com uma alegria imensa.

Como disse, com os olhos da cara não via nada, mas como os olhos do espírito notei ali algo de extraordinário. Depois a menina fechou a boca e ouvi perfeitamente a engolir algo que não via. Então a menina, depois de tudo isto, veio ter connosco. Primeiro aproximou-se de mim depois de ter falado algumas palavras com aquele Anjo que ela via, e depois começou a tocar-me.

Eu assustei-me, de joelhos, sem poder levantar-me e retirei-me arrastando-me de joelhos para que a menina não me tocasse. Notava alguma coisa misteriosa, mas a menina insistia até que pegou no escapulário do hábito. Então, eu, com as mãos cruzadas em cima do escapulário, fiz força para que a menina não levantasse o escapulário, porque sentia que o ia levantar para cima.

Sem saber o que era tudo aquilo, comecei a fazer força, mas tornou-se inútil porque a menina levantou o meu escapulário, como se fosse um cálice, com uma devoção extraordinária o elevou a uma determinada altura, uns segundos no ar, e depois deixou-o cair suavemente, falou umas palavras e aproximou-se de um outro companheiro. A menina sem olhar para a pessoa, acercou-a de joelhos até ao outro companheiro, e fez o mesmo que das outras vezes, falou umas palavras, deixou o escapulário e dirigiu-se a um outro companheiro nosso.

Para o terceiro companheiro, fez-se de propósito, um nó com os três escapulários para ver se a menina apresentava o mesmo escapulário duas vezes. Sem olhar, apenas para a imagem que ela via no céu, deixou os Escapulários beijados, e ficou apenas com o escapulário que ainda não tinha sido dado a beijar. Fez o mesmo com os demais, depois de uns instantes a menina seguiu extasiada, fez o sinal da cruz de uma forma como nunca vi, e passado algum tempo, deixou de estar em êxtase.

A menina levantou-se como se nunca tivesse passado nada. Nós assustados, de todas as cores, começamos a falar com ela, quase sem conseguir falar:

-- Já comungastes?

-- Sim, já comunguei.

Tenho de informar-vos que nós levávamos uma máquina fotográfica, nenhum de nós sabíamos como utilizá-la e não acordamos usar a máquina para tirarmos fotos. É curioso, porque as fotografias foram tiradas e nas fotos saímos os três, mas não nos lembramos quando tiramos essas fotos.

Voltamos a perguntar a Conchita:

-- Porque é que pegastes nos escapulários e porque os elevastes ao céu?

-- Foi o Anjo que me pediu para os beijar.

-- Falastes com um Anjo?

-- Sim.

-- E o que é que ele te disse? Disse-te alguma coisa sobre nós?

-- O Anjo já sabia que vocês estavam aqui e disse-me que veio hoje aqui porque estavam aqui e também disse-me que o Senhor e Nossa Senhora estão contentes convosco.

-- Disse alguma mensagem para cada um de nós?

-- Sim, deu uma mensagem para cada um de vós.

-- Podes dizer-nos?

-- Não, tenho que dizer primeiro a Nossa Senhora, isto porque o Anjo disse-me para fazer assim.

-- Então, nos dirás

-- Sim, sim, eu vos direi.

-- E tu sabes de quem era o primeiro dos escapulários que apresentastes?

-- O primeiro era do irmão Luís.

-- E o segundo?

-- Do irmão Miguel.

-- E o terceiro?

-- Do irmão João.

--Como vistes o Anjo?

-- Com um vestido azul, alas rosa e cabelo um pouco comprido com pontas enroladas para cima.

Ao dizer isto, ela fez o mesmo sobre o seu cabelo para nos indicar a descrição de forma mais gráfica. Durante a conversa, tanto antes como depois do êxtase, tratava-nos sempre por "padres". Uma das vezes, depois do êxtase, ao chamarmos de novo "padres" dissemos-lhes que eramos "irmãos". Ao ouvir-nos ela disse-nos:

-- Ah! Por isso é que o Anjo me disse "os irmãos". Então, eu disse ao Anjo que não eram irmãos e o Anjo sorriu-me.

Começamos de novo o regresso à povoação e voltamos de novo ao tema das mensagens quando íamos com ela.

-- Diz-me Conchita, a mensagem é grave?

-- Não, Não, é boa.

-- Mas estamos a ver que não nos vais dizer de verdade

-- Sim, sim, digo a verdade.

Temos de informar que não demos a nossa direcção. Passados dois meses destes acontecimentos, um dos nossos irmãos recebeu a sua mensagem.

Terminadas as nossas perguntas, baixamos à povoação com Conchita, entretanto a meio caminho, Conchita diz-nos: por aqui, por entre estas pedras, dizem que baixo de costas. E dizia tudo isto com uma ingenuidade incrível.

Chegamos à povoação, tomamos uma pequena refeição e regressamos à nossa residência, e dando graças ao Senhor por tudo aquilo que inundou a nossa alma de alegria.

As pessoas tentavam fazer-nos perguntas. Pareceu-nos estranho e para evitar maiores complicações decidimos baixar caminho de forma a chegarmos a Celorio à noite, antes dos exercícios espirituais das sete e meia.

Não sabemos como foi possível, mas chegamos ao povo imediatamente, tivemos um carro à nossa disposição e antes das sete e meia da tarde estávamos em Celorio, na nossa residência para começar os santos exercícios.

Os exercícios, de certa forma, foram estas coisas que nos ocorreram em Garabandal naquele dia memorável.

À parte deste relato, quero contar como nos contava esta menina a morte do Padre Andreu e como nos dizia com ingenuidade o facto de ter falado com ele em alemão, inglês, francês e em grego. Falou sobre a maneira como a Nossa Senhora as beijava, como as acariciava. Deu-nos uma lição sobre a forma como a Virgem tratava todos os seus filhos e de que forma todos os filhos têm que falar com Ela.

Para nós, estes foram os melhores exercícios espirituais que fizemos em toda a nossa vida.

Muitas mais coisas queria contar-vos, como as cartas que o Padre Pio escreveu a esta menina e como coincide tudo aquilo que o Padre Pio falou e a actualidade de tudo aquilo que se está realizando. Esta menina dizia-nos que a taça está a transbordar, que Nossa Senhora queria muito a salvação do mundo e que queria que evitássemos o castigo. Que rezássemos muito e que pedíssemos em especial pelos religiosos e sacerdotes.

Naquela altura não entendíamos bem sobre aquilo que Conchita nos tinha falado., depois de passarem estes anos todos, demos-mos conta que como aquelas mensagens da Virgem estão-se a cumprir, tal como Ela disse.

Traduzido para português pelo apostolado de Garabandal em língua portuguesa.

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