O testemunho de Alejandro Damians

Em repetidas ocasiões e a diversas pessoas já tive a oportunidade de relatar a minha impressão sobre o prodígio deste milagre que tive a graça de presenciar em S. Sebastião de Garabandal no dia 18 de Julho de 1962.


Imagem tirada por Alejandro Damians no dia do Milagre da Hóstia visível

Imagem de uma comunhão invisível que normalmente as videntes tinham diariamente.

Iniciarei o meu testemunho voltando um pouco atrás, à segunda-feira do dia 16 de Julho de 1962. Nessa altura, eu já sabia que no próximo dia 18 estava anunciado o primeiro prodigio de Garabandal, ou melhor dizendo, o primeiro feito extraordinário público.

Sempre acreditei ser um homem de fé. Jamais necessitei de presenciar milagres para reafirmar as minhas crenças, no entanto a minha curiosidade humana tinha-me levado a que durante o mês de Março visitásse a pequena aldeia situado na província de Santander.

Sem ser particularmente impressionável, a bondade dos seus habitantes, os êxtases das meninas, o ambiente sobrenatural que parece experimentar-se quando pisamos aquelas terras, produziram um forte impacto nos meus sentidos. Não obstante, toda esta experiência parecia-me já suficiente, estava por isso indeciso sobre a decisão a tomar naquela ocasião.

Confesso sinceramente que estou muito apegado às comodidades, nessa altura estava disposto a tomar umas pequenas férias de verão em Premiá del Mar, tentanto desta forma ignorar o próximo dia 18 de Julho, onde estava anunciado a realização de um prodígio que dificilmente teria nova ocasião de o presenciar. Propus-me buscar pequenos sinais que me indicassem, sem que houvesse intervenção da minha parte se realmente o meu destino seria estar em Garabandal naquela altura.

Um primo meu estava desejoso de ir. Tínhamos assim combinado que antes da sua partida de regresso de uma povoação da costa, passaría pela minha residéncia para que confirmasse se eu ia ou não a esta viagem a Garabandal. A hora tinha sido marcada para as sete da tarde; entretanto, as horas passavam e acabei por acomodar-me à minha vida familiar, estando já plenamente decidido de não interromper as minhas curtas férias.

No meio do jantar familiar, recibi a sua visita, indicando-me que por motivos familiares também era-lhe impossível ir na viagem, no entanto disse que um amigo seu estava disposto a efectuar a viagem se encontrasse um companheiro de viagem; na altura declinei o convite.

Cada vez mais se apresentam mais propícias as circunstâncias para recusar a ida a Garabandal; a hora tardia, a imposibilidade por parte do meu primo e a ideia de realizar a viagem com um desconhecido, para mim, todas estas adversidades reforçavam a minha decisão de ficar em casa.

Neste ponto, de forma mais humana e simples, tive plena consciência da vontade Divina na pressão que sobre mim era exercido, não só da minha esposa e do meu primo de quem já esperava semelhante reacção, mas principalmente do meu filho de tenra idade; o re-convencimento da minha esposa, conselhos do meu primo e súplicas do meu filho: por fim cedi.

A partir deste momento, tudo se sucedeu a uma velocidade vertiginosa; uma chamada telefónica ao amigo do meu primo, o nosso encontro para as quatro da madrugada, a viagem a Barcelona com a minha esposa, para preparar o imprescindivel e deixar uma nota advertindo no escritório sobre minha ausencia por uns días... Tudo foi realizado de forma sucessiva. Às quatro em ponto, o meu novo amigo com o seu irmão, minha esposa e eu, partimos de carro para o Norte.

Neste momento torna-se forçoso citar um detalhe que estava destinado a ser talvez o mais importante; antes de partir, o meu primo entregou-me uma máquina de filmar de um amigo seu, dando-me uma breve indicação sobre o seu modo de funcionamento, facto importante porque a minha incompetência nesta matéria era fruto de um total e absoluto desconhecimento da técnica.

A nossa viagem não oferece detalhes dignos de menção apenas o pormenor de que sem qualquer interrupção andamos de carro pelas estradas, sem dormir. Às 10 da noite do día 17 chegamos a Garabandal.

A pequena aldeia estava invadida de forasteiros. Sem publicidade alguma, a notícia da primeira prova perceptivel da veracidade dos acontecimientos profetizados, havia-se extendido por todo o país; uma multidão procedente de diversas regiões e classes sociais dava uma ideia de um ambiente próprio, na qual se podia respirar uma excitação incomum. Entre os visitantes haviam vários sacerdotes que conversavam entre sí e com D. Valentín, pároco de Cosío, que também havía subido até Garabandal para as cerimónias religiosas que devíam ter lugar no día siguinte.

Encontramos uma habitação na casa de Encarna, tía de uma das meninas videntes, onde deixamos a nossa escassa bagagem, partindo de seguida até a casa de Conchita, uma das quatro videntes e a que, precisamente, tinha anunciado o milagre.

Naquela noite presenciamos um êxtase, como sempre extraordinário, o que afectou ainda mais a nossa sensibilidade, sempre que nos encontrávamos a aguardar a demonstração visível do sobrenatural.

Parece absurdo referir-me ao día siguiente, quando os días 17 e 18 constituiem um todo ininterrupto, sucedeu-se um pálido amanhecer nublado, de cor acizentada, que parecía uma continuação da noite; na madrugada segui-se um pequeno burburim do povo em festa, fraco pela manhã e que foi aumentando nas primeras horas da tarde.

Quase todo o día 18 o passei no interior da casa de Conchita com a minha esposa, meu amigo e vários sacerdotes, assim como outras pessoas desconhecidas. Tive ocasião de falar com Frei Justo, sacerdote Franciscano com quem logo troquei correspondencia, e que em carta a um amigo meu dizia o quão incrédulo havía partido de Garabandal depois da realização deste prodígio.

Havia duas circunstâncias que se davam naquela ocasião que faziam originar dúvidas se se produziria ou não o prodigio anunciado; uma dessas situações era o ambiente festivo que reinava na povoação; outra era a presença de sacerdotes. Em algumas ocasiões anteriores, as meninas não tinham entrado em êxtase; de outra parte, a presença de sacerdotes tinha motivado anteriormente que as meninas recebiam a comunhão normalmente e nunca por mediação do Anjo.

O ambiente era de alguma dúvida tendo em que entre os visitantes dizia-se que Conchita tinha avisado pessoalmente alguns dos sacerdotes para que fossem no día 18, assim como as perguntas que foram sendo formuladas naquele mesmo dia, foi manifestado que a festa, não seria obstáculo para a realização deste milagre.

Por volta das três da tarde, Conchita anunciou que ia almoçar, convencendo-nos que o que iria acontecer seria uma comunhão, por isso teria que esperar no mínimo três horas. Assim, entre dúvidas, esperança, tédio e ilusão o dia foi passando.

Ao passar as 12 horas da noite sem qualquer manifestação o desalento e e incredibilidade começaram a tomar conta das pessoas presentes.

Por volta da uma da madrugada do dia 19, quando alguns já tinham começado a viagem de regresso a casa, extendeu-se rapidamente a notícia de que, segundo a hora solar e a situação geográfica desta povoação, o dia 18 não terminaría até as 1h 25m da madrugada. Para aqueles que estavam no interior da casa de Conchita, já sabiam de uma coisa certa: Conchita tinha já recebido a primeira chamada.

Pouco tempo depois mandaram-nos sair da casa e ficamos junto à porta na companhia de um amigo da familia de Conchita, para evitar a entrada de outra qualquer pessoa. No local onde me encontrava, conseguia ver a cozinha e a escada que dava para o piso superior da habitação. Nesse local estava Conchita que creio que falava com uma prima e um tio seu quando entrou em êxtase.

A primeira coisa que vi, foi vê-la descer pela escada, de forma rápida, com aquele ar clássico de êxtase, rosto enbelezado e luminoso. Ao cruzar a porta de saída da sua casa, as pessoas que aguardavam abriram caminho para deixar-lhe passar, a partir desse momento a multidão juntou-se em seu redor como um río que saísse fora da margem e arrastasse tudo que encontrasse pela passagem. Vi caírem muitas pessoas, que eram pisadas por toda aquelas pessoas desgovernadas, e ver todas aquelas pessoas a empurrarem-se umas às outras, não podia ser mais aterrador.

Tentamos ficar perto de Conchita, mas cinco ou seis filas de pessoas puseram-se à nossa frente; às vezes, conseguia distingui-la com alguma clareza. Virou à esquerda, passou a estrada que circunda a casa com um muro baixo, voltou a virar à esquerda, e no centro daquela ruela caiu de repente de joelhos.

Foi tão inesperada a sua queda, que as pessoas, devido à sua própria inércia, passaram por cima de Conchita; ao livrar-me disso, de todos aqueles que iam à minha frente e que me separavam de Conchita, caí inesperadamente à sua direita e a meio metro do seu rosto. Aguentei com firmeza e com grandes dificultades os empurrões dos que estavam atrás de mim, tentanto com todas as minhas forças não ser retirado deste priveligiado lugar que tinha entretanto conseguido. Os empurrões foram diminuíndo até ficar o ambiente totalmente calmo.

Pouco tempo antes de meia-noite, as nuvens que obscureciam o céu, tinham-se dissipado e o manto azul tinha-se iluminado de estrelas que brilhavam em volta da lua. Com a sua luz e a infinidade de lanternas de mão que iluminavam a ruela, pude distinguir perfeitamente que Conchita tinha a boca aberta e a língua de fora, numa clássica atitude de comungar. Estava mais bonita que nunca. A sua expressão, os seus gestos, sem apresentar um aspecto vulgar e ridículo, era de um misticismo impresionante e comovedor.

De repente, sem saber como, sem me dar conta, sem que Conchita tivesse mudado a sua posição ao mais mínimo pormenor, a Sagrada Forma apareceu na sua língua. Foi totalmente inesperado. Nos deu a impressão de ter sido ali depositada a uma velocidade superior à da percepção do olhar humano.

É impossível descrever a impressão que senti naquele momento e o que sinto ainda hoje quando o recordo. Surpresa, assombro, confusão, são muitos sentimentos para podermos defini-los a todos numa só expressão. Estas frases e outras acabei por relatá-las por várias vezes, ao chegar a este ponto, sentia aquela impressão maravillosa mantém o coração dentro do peito, envolvendo-me de ternura e humedece-me os olhos numa vontade enorme de chorar... Lágrimas de alegría, de satisfação, de felicidade, de amor...

Mais tarde tive conhecimento que Conchita permaneceu uns dois minutos permanecendo-se imóvel, e sobre a língua a hóstia, que engoliu depois de forma normal e beijou um crucifixo que levava na sua mão. Segundo aquilo que pude saber, tão larga espera foi devido ao facto de que o Anjo disse a Conchita, para que se mantivesse assim até que Nossa Senhora aparecesse.

Naqueles momentos não me deu conta do tempo que tinha passado; recordo, como em un sonho, as vozes que reclamavam a gritos que me agachasse, assim como ter recibido un forte golpe sobre a minha cabeça.

Agarrado ao meu braço, levava a minha máquina de filmar; sem fazer caso dos protestos que surgiram ao meu redor, sem recordar as instruções recibidas por parte do meu primo, abri a máquina, carreguei no disparador e filmei os últimos instantes da comunhão de Conchita. Jamais tinha utilizado uma máquina dessas, nem sequer havía filmado, e só tinha a segurança de ter acertado na imagem a focar, pela minha falta de técnica, pela falta de conhecimentos adequados, pus em dúvida o resultado satisfatório da película; incidiam também outros factores como a adequada classe da película, intensidade da luz, alí quase inexistente, etc...

Conchita levantou-se ainda em êxtase, desaparecendo da minha vista, foi seguida por todas as pessoas presentes em Garabandal. Mais tarde supôs-se que tudo aquilo durou aproximadamente uma hora. Da minha parte, já tinha bastantes emoções; ficou só por uns instantes, encostado à parede e apertando contra o meu corpo a máquina de filmar, com as poucas forças que me restavam.

Ignoro o tempo que permanecí naquele lugar e naquela postura. Quando fiquei mais relaxado após a rigidez provocada pelo nerviosismo, fui andando juntamente com as restantes pessoas a passo lento. Reparti comentários com as pessoas que estavam um pouco por todo o lado e finalmente regressei a casa de Cochita, já sem estar em êxtase e onde me escreveu umas frases num postal.

Finalmente, despedi-me dela e de D. Valentín, que me tinha mandado chamar para pedir-me os registos da máquina, e totalmente esgotado partia de Garabandal em direcção a Barcelona: eram 3:15 da madrugada.

Não sei o que pensaram os que leram este relato, nem a decisão que a Igreja adoptara no julgamento dos acontecimentos. Eu ignoro em absoluto, e é muito possível que no presente, não sintam interesse algum por isso.

A única coisa que se pode afirmar sem qualquer dúvida, é que para mim, no dia 18 de Julho de 1962, ocorreram dois milagres em Garabandal: o primeiro foi da comunhão visível de Conchita, revestido de caracteres sobrenaturais de grandes proporções; o segundo, sendo de menor alcance colectivo, mas não menos transcendente para mim, a prova da infinita condescendência da Virgem, porque só devido a Ela pude ver e presenciar o Milagre.

Alejandro Damians.

Barcelona, Janeiro de 1963