A oração do Rosário foi realçada em Garabandal

De acordo com a tradição, foi em 1214 que Nossa Senhora explicou a S. Domingos sobre uma nova forma de rezar o terço. Desde dessa altura que dezasseis Papas têm honrado e usado este tipo de oração, promovendo-o junto dos religiosos e leigos com o objectivo de cada vez mais pessoas usarem esta poderosa forma de comunicação com o Céu. Leão XIII, durante um período de dez anos, chegou a escrever sete cartas encíclicas promovendo o uso do Rosário e da sua aplicação urgente na igreja. Mais tarde, João Paulo II, foi um dos Papas que mais uso fez da oração do Rosário.

Foi esta linda oração que Nossa Senhora quis novamente ensinar às quatro meninas de uma aldeia pobre de Espanha, Garabandal. Porque é que passados quase 700 anos, houve necessidade de ensinar novamente esta oração? Porquê, quando a mesma oração tinha sido presente a S. Domingos de forma tão detalhada? Porque é que escolheu Nossa Senhora quatro crianças, com pouca formação, para ensinar a rezar esta oração? Certamente que Nossa Senhora sabia da aproximação do Concílio Vaticano II. João XXIII propôs pela primeira vez, a realização de um Concílio a um grupo de cardeais, no dia 24 de Janeiro de 1959 de um mosteiro Beneditino. Isto ocorreu dois anos e meio antes dos acontecimentos de Garabandal. Porque é que então, não escolheu Nossa Senhora alguns Cardeais, Bispos ou o próprio Papa João XIII para esta missão?

De facto, ao longo de vários séculos que Nossa Senhora quis sempre transmitir a mensagem do Rosário a várias crianças e a pessoas relativamente jovens, e normalmente com pouca instrução escolar. Em Lourdes, através de Bernardete, em Fátima através de Jacinta, Francisco e Lúcia, e agora em Garabandal através de Mari Cruz, Jacinta, Mari Loli e Conchita Gonzalez. Em Lourdes, Bernardete rezava sempre o terço antes da aparição de Nossa Senhora e posteriormente Nossa Senhora ajudava Bernardete na recitação do terço, passando com os dedos as contas do terço, sem recitar em voz, e quando chegava à parte da oração do "Glória", Nossa Senhora baixava a cabeça em sinal de Louvor e respeito a Deus todo-poderoso, participando desta forma na recitação total do terço.

Em Fátima, a Mãe de Deus recomendou e utilizou a recitação do Rosário em cada uma das aparições, pedindo que se adicionasse uma nova frase ao terço: " Ó meu Jesus, perdoai-me e livrai-me do fogo do inferno, levai as almas para o céu principalmente as que mais precisarem." Aparentemente o mundo não compreendeu a importância destas mensagens. Nossa Senhora sentiu a necessidade vir de novo dar a conhecer a importância da recitação do Rosário. Será que o propósito de Garabandal foi dar algum realce e reflexão suficiente sobre o Rosário, antes da realização do maravilhoso Concílio Vaticano II?

A respeito dos registos ocorridos em Garabandal, não existem dados precisos na totalidade sobre quais os dias em que Nossa Senhora rezou o Rosário com as meninas videntes de Garabandal. O que sabemos é que isso acontecia regularmente e que era normalmente antes da aparição ocorrer. Sabemos por exemplo que no dia 2 de Julho, primeira aparição de Nossa Senhora em Garabandal, as meninas recitaram o Rosário, mas não existem muitos detalhes sobre a forma como tudo foi feito. No dia 4 de Julho, as meninas recitaram o Rosário na Igreja Paroquial, pouco tempo antes da aparição de Nossa Senhora. No dia 29 de Julho, sabemos que Nossa Senhora pediu às meninas videntes que a multidão, ali presente nesse dia, participasse na recitação do Rosário. Num determinado dia, Mari Loli e Jacinta estavam a recitar o Rosário, iam no final da primeira dezena, quando entraram em êxtase, e depois de estarem em êxtase continuaram a sua recitação. No dia 31 de Julho, sabe-se que Nossa Senhora também participou na recitação do Rosário. Depois do êxtase ter terminado, Mari-Loli informou aos presentes que Nossa Senhora ensinava-as a dizer as orações na altura certa, e muitas vezes era a própria Nossa Senhora que recitava a própria oração da "Avé Maria" juntamente com elas, só para as corrigir e ensinar a rezar devidamente. Esta foi a primeira constatação, que houve na realidade um ensinamento verbal no que respeita à recitação do Rosário.

No dia 3 de Agosto de 1961, uma das meninas começou o Rosário antes de entrar em êxtase. No meio da primeira dezena, Loli e Jacinta entraram também em êxtase. Nesse êxtase, Nossa Senhora apareceu com o Menino Jesus ao colo, as meninas todas cheias de alegria quiseram coloca-lo nos seus braços e por essa razão o Rosário não tinha sido rezado na sua totalidade. Depois de terem pegado no Menino Jesus e de terem feito todas as festas que normalmente se fazem com bebés e crianças pequenas, as meninas videntes desceram até à Igreja paroquial onde posteriormente finalizaram a recitação do Rosário que entretanto tinha sido interrompido pelas razões apresentadas anteriormente. No dia 5 de Agosto, Conchita estava a liderar uma das recitações do Rosário em êxtase, perguntava a Nossa Senhora porque é que Mari Cruz, a sua companheira, não estava presente naquele momento. Sabemos que nessa noite, Mari Cruz não esteve presente, isto porque foi obrigada pelos pais a deitar-se mais cedo. Nossa Senhora respeitava sempre a decisão dos pais.

Parece estranho para nós adultos, todas estas sucessivas interrupções que as meninas videntes tinham com as suas orações : a entrada súbita em êxtase durante a recitação, conversação com Nossa Senhora sobre os mais diversos assuntos, novo redireccionamento para as orações que entretanto tinham sido interrompidas, a atenção para com o Menino Jesus, etc. Para nós adultos, tudo isto seria motivo de distracção. Mas para as jovens meninas participantes, a mudança de contexto, deste nosso mundo para o mundo sobrenatural era feito de uma forma natural e simples, como se tratasse de um prolongamento às suas orações. Tendo em conta a intensa atenção que as meninas tinham nas aparições, a sua participação nestes êxtases, eram sem margem para qualquer dúvida, uma forma de oração e ninguém ficava indiferente a toda esta experiência espiritual, que se caracterizava por uma comunicação descontraída com esta especial visita do Céu.

Um ponto interessante ocorreu no dia 6 de Agosto, quando durante a noite as meninas videntes recitaram o Rosário. As suas vozes tornam-se angelicais, moduladas ao ritmo da recitação, de forma lenta e precisa e com a máxima de atenção sempre presente

Ainda nesse dia e depois de terem completado as suas orações em êxtase, saíram desse estado pouco tempo depois e seguiram para a Igreja paroquial para rezarem uma " estação[1] ". Quando as meninas videntes rezavam uma oração, sem estarem em estado de êxtase, era possível verificar que as suas vozes já não eram tão moduladas, já não apresentavam aquele tom especial e o mesmo ritmo.

Estes ensinamentos por parte da Virgem Maria, seriam uma espécie de chamada de atenção para a forma rápida com que muitas vezes se reza o terço. Tanto na aldeia como pelas próprias videntes, verificou-se posteriormente uma correcção à sua forma de rezarem estas orações. No entanto, apesar destes maravilhosos e preciosos ensinamentos dados pela nossa Mãe do Céu, muitas poucas pessoas seguiram estes conselhos. As meninas no entanto, à medida que iam tornando-se mais crescidas, adoptaram esta nova metodologia de rezar as suas orações, em especial o Rosário.

No dia 8 de Agosto de 1961, ocorreu um dos maiores e mais importantes acontecimentos relacionados com as aparições de Garabandal. Foi durante este êxtase que o Padre Andreu, um sacerdote Jesuíta presente em Garabandal na altura, presenciou também Nossa Senhora e o futuro Milagre de Garabandal que um dia ocorrerá nesta povoação. Durante esta aparição, as meninas recitaram mais uma vez o Rosário. Nessa noite, depois de Jacinta, Loli e Conchita terem saído do êxtase, Mari-Cruz permaneceu em êxtase na Igreja paroquial. Tudo isto aconteceu numa altura em que Nossa Senhora ensinava Mari-Cruz a rezar o Credo e a Avé Maria. Desta vez, Mari-Cruz não deixou escapar esta oportunidade. Neste dia, Nossa Senhora também ensinou as meninas a rezarem todo o Rosário.

Basta dizer que Nossa Senhora queria que todos nós, pensássemos bem nas palavras que recitamos, e não estava interessada no volume e na quantidade de orações, mas sim preocupada no nosso entendimento das palavras e no seu verdadeiro significado. Ao rezarmos desta forma, a nossa piedade e devoção é aumentada, e ficamos desta maneira mais perto das coisas de Deus, e do Seu amado Filho, Jesus Cristo. No dia 4 de Novembro de 1961, Nossa Senhora instruiu as meninas para recitarem o Rosário todos os dias.

Participação de Nossa Senhora

A participação de Nossa Senhora na recitação do Rosário durante o estado de êxtase das meninas videntes, tornou-se bastante evidente a sua grande preocupação e cuidado que tinha com todos nós, pois queria ensinar-nos a rezar as nossas orações de forma correcta no sentido de falarmos com Deus com toda a atenção e com todo o nosso pensamento.

Ao examinarmos a participação de Nossa Senhora no Rosário, podemos ficar um pouco confundidos e fazermos esta pergunta: como é possível que a própria Nossa Senhora seja ela própria a rezar a "Avé Maria". Não seria tudo isto uma espécie de auto- adulação como muitos poderão pensar?

Em Garabandal, quando Nossa Senhora e as meninas videntes recitavam o Rosário, elas rezavam através da Mãe do Céu para chegarem as suas preces a Deus. As palavras da oração parecem endereçar-se para ela, mas se analisarmos melhor, as primeiras palavras da "Avé Maria", não representam a nossa saudação para com ela, mas sim a saudação do Anjo e a saudação da sua prima Isabel. Ver este ponto no Novo Testamento (Lucas 1: 28-42).

Nestes pequenos versos, podemos encontrar a presença do amor e da misericórdia de Deus, não só para Maria, mas também para nós, uma vez relacionarem-se com a nossa salvação. De que forma participa Nossa Senhora, na recitação do Rosário? Ela lembra-se das primeiras palavras de oração ditas pelo Anjo de Deus: "Avé Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco..." Estas palavras encontram-se gravadas no seu coração Imaculado. Ela regozija-se deste momento sempre que colocamos estas palavras dirigidas para ela. O seu coração salta de alegria e ama em gratidão a Deus fazendo-lhe lembrar a misericórdia de Deus e o próprio Mistério da Incarnação.

Então a resposta a esta pergunta é clara. Claro que sim, Nossa Senhora pode participar nestas orações, isto porque as orações não são para ela, mas representam aquilo que Deus fez através dela para a salvação de todos os homens. Como poderia Nossa Senhora esquecer-se do seu encontro com a sua prima Isabel, quando viajou e percorreu pelos montes da Judeia todo aquele caminho para assisti-la durante o momento de gravidez de João Baptista? Isabel, cheia do Espirito Santo, sentindo o movimento do seu filho no seu ventre, ao sentir a presença do Salvador, exclama cheia de alegria e de espanto: " Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre, Jesus." Que mãe ficaria indiferente a esta frase? Da mesma forma que Nossa Senhora participava na recitação do Rosário, também connosco ela participará nas nossas orações, se forem bem reflectidas. Uma vez que a segunda parte da "Avé Maria", é lhe dedicada totalmente, ela não a dizia juntamente com as meninas videntes, mas esperava que as meninas terminassem de recitar a "Avé Maria", rezando novamente em conjunto o "Glória".

Por tudo isto, teremos todos nós que pensar sobre o grande carinho e amor que Nossa Senhora teve para connosco, ao querer participar connosco nas nossas orações e de lembrar-se com todos nós sobre os mistérios e sobre as maravilhas de Deus. Portanto, lembremo-nos todos: a Mãe de Deus está e estará sempre connosco nas nossas orações.

Willian Kuhn

Traduzido para português pelo apostolado de Garabandal em língua portuguesa